Wednesday, September 21, 2011

O braço triunfante

Os momentos finais do GP da Itália de 1971 são ímpares na história, com os cinco primeiros colocados cruzando a linha de chegada em pouco mais de 0,6s. O primeiro deles, talvez o mais improvável: Peter Gethin, inglês, um dos tantos pilotos da BRM, pouco antes ejetado da McLaren, que havia largado aquele dia numa modesta 11ª posição. Segundo ele próprio se recorda, passou ao menos metade da corrida estourando o limite de giros do motor em 500 rpm.

Na última tomada da Parabolica, tomou a linha de dentro, viu Peterson espalhar na saída e abrir um espaço para ele. Na reta final, alongou o quanto pôde a quarta marcha e venceu, um centésimo á frente do sueco.

Antes mesmo de cruzar a linha de chegada, Gethin havia erguido o punho em riste, como fazem os vencedores. Na edição mais recente da revista MotorSport, ele explica o porquê:

"Eu sabia que a chegada seria muito apertada, então levantei meu braço em sinal de triunfo, não por que estivesse me mostrando, mas, sabendo que estava na Itália, eles poderiam não ser assim tão espertos com a cronometragem e confiassem mais em quem levantasse a mão primeiro."

Quarenta anos depois, não sem surpresa, eu me pego lendo esta história em solo italiano. Alguns devem ter percebido que o presente blog ficou em estado vegetativo por umas boas semanas. Eis a razão: o autor (no caso, eu) está em trânsito, en passant, pensando em coisas mais importantes e vendo as corridas de Fórmula 1 em pubs e bibocas esquecidas por Deus.

Não culpo Gethin. Pensando bem, minha impressão da Itália é bem parecida com a dele. Aqui, às vezes, é mais importante levantar a mão primeiro.

A história do GP da Itália de 1971 tem mais um parêntese interessante. Naquele ano, a equipe da BRM ficou instalada num hotel perto do lago di Como, não exatamente ao lado do autódromo, mas cercada de luxo, bem ao gosto do dono da equipe, o excêntrico (leia-se rico) Louis Stanley (1911-2004). No sábado, Stanley convidou François Cevert para jantar com eles e ouvir uma proposta - embora só um louco trocasse a Tyrrell pela BRM naquela época.

O fato é que a mesa do jantar ficou estreita demais para o convidado especial, Cervert, e a nova namorada de Stanley. Alguém teria que pular fora, e esse alguém, claro, foi Gethin.

No dia seguinte, Cevert havia sido terceiro e Gethin era o novo queridinho da equipe. Além dos louros da vitória, o inglês ganhou também o direito de voltar a Como não em seu modesto carro alugado, mas na espaçosa limousine do chefe.

Acontece que, no meio do caminho, o pneu da limousine furou. Adivinha quem teve que trocá-lo? Exatamente. Enquanto isso, Stanley, corpulento e com pose de lorde, assistia aos esforços de seu piloto.

A Itália nunca é tão charmosa quanto parece.

Foto: Rainer Schlegelmilch

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