Saturday, December 20, 2008

Ritualidades

Aproveitando o tema do post anterior.

A definição e a própria validade do fotojornalismo, por incrível que possa parecer a um leigo, é amplamente questionada nos meios acadêmicos. Se a foto constitui notícia, se ela pode ser dotada de valor jornalístico, há muita gente empenhada em derrubar tudo isso. Mas é outra discussão.

No que se refere à Folha de S. Paulo, brinca-se que muitas de suas legendas poderiam vir em braile, pois servem apenas a quem não consegue ver o que está retratado.

No entanto, ao longo desta última temporada, o problema que se viu a Folha cometer, na cobertura da Fórmula 1, foi o abuso das imagens rituais, a saber: largadas, chegadas, piloto vencedor saindo de seu carro e pódio.

Das oito corridas apontadas, apenas em uma, o GP de Cingapura, a imagem principal não se enquadra numa das quatro categorias acima mencionada.

Mas por que está errado lançar mão destas imagens? Na verdade, não está. Mas é pouco criativo e empobrecedor, por um único motivo: ora, largadas, chegadas, comemorações e pódios acontecem em toda corrida. Nunca houve uma corrida sequer na história da Fórmula 1 sem uma largada (parada ou em movimento, não importa), sem uma chegada e sem um vencedor. Logo, estes momentos não se justificam para serem expostos com tanto destaque.

No caso do GP de Cingapura, a imagem da Ferrari de Felipe Massa levando consigo a mangueira de combustível acoplada não é algo que se veja em todo santo GP. Mais que isso, remete a um fato que modificou os rumos da corrida e do campeonato, e, por isso, foi muito feliz em tornar-se destaque no jornal.

O retrato de Vettel jogado para cima após sua vitória também é justificável, pois trata-se de um piloto que nunca havia vencido antes, e que não era exatamente um favorito. Mas a comemoração pela vitória não é, por si só, algo digno de aparecer no jornal. A notícia ocorrem aí sim, quando o vencedor não comemora (exemplo: os irmãos Schumacher no pódio do GP de San Marino de 2003, realizado após a morte da mãe destes).

Pessoalmente, sou um pouco contra esse dogma de publicar uma foto apenas quando ela é notícia. Acredito que qualquer imagem pode ser impressa, desde que ela seja dotada de uma coerência interna relevante. A julgar pelo desfile de trivialidades que a Folha imprimiu em suas páginas reservadas à Fórmula 1, porém, seus editores não devem partilhar da mesma opinião.

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