O site Grande Prêmio anunciava como manchete principal, no último dia 11: Piquet ‘aconselha’ Barrichello: “Tá na hora de ir para casa”. Era um conjunto de quatro matérias, todas assinadas por Felipe Paranhos, todas acerca da opinião de Nelson Piquet sobre algum fato: Senna ainda não mostrou talento, fala Piquet, Piquet fala que ano de Nelsinho foi muito bom, Nelson se impressiona: "F-1 está competitiva", e, finalmente, Piquet diz que só anda no GT3 se estiver livre.
Minto. Esta última contém uma informação de verdade. Também erro em apontar o nome do repórter, que não inventou essa modalidade de produção jornalística, está submetido a superiores.
Esta modalidade, recorrente, é a de destacar a opinião de alguém sobre um determinado fato e reproduzi-la como notícia, e Piquet é um dos grandes símbolos desse tipo de jornalismo. Sempre foi um showman, construiu sua persona sobre a irreverência. Desbocado desde os tempos de piloto, mesmo afastado do circo (no ano de estréia de seu filho na categoria, quase não apareceu nos autódromos), seus comentários a respeito da Fórmula 1, histriônicos, informais, viram manchete quase automaticamente.
O automatismo é flagrante na chamada principal, Piquet ‘aconselha’ Barrichello: “Tá na hora de ir para casa”. É de conhecimento público que Piquet e Barrichello enfrentaram desavenças há anos, e que, desde então, o tricampeão jamais se pronunciou a favor de Rubens. Este, por sua vez, poucas vezes ou nunca respondeu a qualquer acusação vinda de seu desafeto.
O texto da matéria , por incrível que pareça, fala muito mais sobre a saída da Honda do que sobre Barrichello. Há apenas uma menção: “Ele já ficou 17 temporadas na F-1, né? Tá na hora de voltar pra casa...”.
Relevemos Barrichello, pois. Sobre a saída da Honda da Fórmula 1, o entrevistado informa que não tratou isso como surpresa, que é algo esperado em tempos de crise, e analisou que as montadoras tratam a Fórmula 1 como puro marketing.
Há alguma informação nova para o leitor? Interessa ao leitor saber que a saída da Honda não surpreendeu Piquet (relevemos também o fato de que é muito fácil declarar conformidade para com um evento após ele ter acontecido...)?
Pois é, e o Grande Prêmio considerou esta a notícia mais importante do dia.
Mas este não é um vício do Grande Prêmio, apenas. Certa vez, no Tazio (que me desculpem os acadêmicos, não guardei a referência), um título anunciava que Nelsinho Piquet havia ficado decepcionado após uma sessão de treinos na qual ele figurou entre as últimas posições. Ora, isto não é notícia. Seria notícia se ele, ou qualquer outro piloto, desse urros de alegria por ter se classificado em penúltimo.
Qualquer blogueiro mediano sabe que é difícil mesmo arranjar assunto sobre automobilismo em determinadas épocas, principalmente durante o inverno europeu. Mas daí a publicar qualquer “aspas”, há uma grande diferença. Nossa imprensa especializada tem a função de fornecer notícia, informação. Palpite não é notícia.
Informação significa relevância, ou nas palavras de Husserl, é a “diferença que faz a diferença”. Não há nada de diferente nas falas de Piquet. Criticar Barrichello e falar bem do próprio filho são balelas que ele repete há quinze anos.
Sunday, December 14, 2008
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