Sunday, October 4, 2009

GP do Japão 2009 – Timo Glock está resfriado


Se os treinos oficiais de sábado passado fossem um livro, certamente seriam O Estrangeiro, de Albert Camus. Dividido em duas partes, a primeira é marcada pelo incidente; a segunda, por um processo de ecos kafkianos.

Diferente da obra, em que o acidente é apenas um, as saídas de pista na classificação foram de perder a conta. Duas do Buemi, que certamente gostou de Suzuka, algumas do Kovalainen e por aí vai. Mas se uma delas pode ser comparada ao trágico assassinato executado por Mersault, esta seria o acidente de Timo Glock.

Assim como a morte do árabe (no livro), a batida (na pista) foge a qualquer explicação, mesmo as mais bizarras levantadas pelos locutores da Globo. Uma perda de pressão na frente do carro é o mais plausível. Talvez o carro tenha se desequilibrado quando Timo atacou as zebras internas, e o carro sem pressão não faria a curva – tanto freando quanto acelerando, ele não responderia.

É muito fácil creditar o acidente de Glock à sua gripe no dia anterior. A vida imita O Estrangeiro: assim como no livro, passamos o tempo todo querendo buscar justificativas para o inexplicável, como se não suportássemos a falência de nosso sistema lógico.

(Fica a recomendação da leitura).

Felizmente, o destino de Glock não foi tão trágico quanto o de Mersault – não mais que uma corrida de molho. Dos boxes, o piloto alemão viu uma vitória tranquila de Vettel, com um carro equilibrado e uma condução precisa, que não de deixou abalar pelos problemas no pit stop nem pelo Safety Car que poderia lhe tirar um triunfo certo. Trulli e Hamilton tiveram uma disputa virtual interessante pela segunda posição. Barrichello e Button não fizeram grandes corridas, e o resultado em Suzuka faz o campeonato se arrastar para um previsível final, daqueles que Hollywood sabe produzir aos montes.

A volta (descarada) do Race Control
Quanto ao excesso de punições, o grid confuso e o excesso de batidas, algumas considerações são necessárias. Talvez os pilotos atuais tenham se acostumado demais aos circuitos point-and-squirt, às enormes áreas de escape, e quando finalmente aterrissam em uma pista de verdade, como Suzuka, as batidas fortes são inevitáveis.

Frente a tal situação, o Race Control resolve aplicar a 40% do grid algum tipo de penalidade, e pilotos que são punidos com cinco posições acabam perdendo, de fato, apenas uma. A imprensa britânica questionou o fato de Barrichello ter perdido tantas posições a menos que Button por uma infração idêntica. A explicação é óbvia: tentar arrastar a decisão do campeonato até a última etapa. Não há nada de inocente, e muito pouco de moralidade, nas decisões dos comissários de pista.

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