Thursday, June 30, 2011

Fera Farina (ou: o gênio indomável)


30 de junho de 1966. Nas proximidades da bucólica Chambéry, encravada nos alpes franceses, um Lotus Cortina surge estatelado contra um poste de telégrafo. O ocupante do carro, um senhor próximo dos 60 anos, havia derrapado no gelo acumulado e não sobreviveu ao choque. Era Giuseppe Farina, o primeiro campeão mundial de Grand Prix.

Há dez anos aposentado, 11 desde a última vez que competiu na Fórmula 1, ele havia saído de casa para acompanhar, justamente, o GP da França daquele ano, em Reims. O italiano, que muitos colegas consideravam imortal, tantos foram os acidentes em que se envolveu nas pistas, encontrava seu trágico desfecho.

Farina demorou a descobrir sua paixão por carros. Quando novo, foi oficial de cavalaria, esquiador, jogador de futebol e ciclista. Não fosse isso o bastante, era diplomado em direito e doutorado pela Universidade de Turim.

O primeiro carro de competição de sua vida, uma Alfa 1500, em 1925, foi comprado com dinheiro que ganhou na bolsa de valores. Inscreveu-se numa corrida de subida de montanha e obteve como resultado uma fratura no ombro e cortes no rosto, após ter se chocado contra uma árvore.

Nos anos 30, 'Nino' já assumia o automobilismo como sua profissão. Fez seu nome vencendo provas como uma corrida de voiturette em Brno, em 1934. Sua determinação não passara em brancas nuvens: ninguém menos que Tazio Nuvolari, impressionado com seu talento, assumiu a tarefa de ser seu protetor e mentor.

Sob as asas do grande mestre, entrou na Scuderia Ferrari (na época, Enzo comandava a equipe oficial da Alfa Romeo) em 1936 e não precisou esperar muito para provar sua coragem. Na Mille Miglia do mesmo ano, chegou em segundo lugar após pilotar durante a noite sem faróis.

Consagrou-se em outras provas do pré-Guerra (foi tricampeão italiano) e no pós (GP das Nações de 1946, GP de Mônaco de 1948, entre outras). Mas, a essa altura, suas relações na equipe se deterioravam. Havia sido suplantado por Jean-Pierre Wimille e o seria, depois, por Fangio.

Nos anos 40 e 50, Farina era visto como perigoso e instável. Controlava o carro com o mínimo esforço algumas vezes, mas desgastava o equipamento ao máximo na maioria. Envolvia-se em acidentes que não raro terminavam em fatalidades - de espectadores e de colegas, como Marcel Lehoux e Lázló Hartmann (em 1936 e 38, respectivamente).

As gerações atuais lembram de Farina pela sua vitória no primeiro GP válido para o mundial e pela conquista deste, mas, à época, estes foram feitos relativamente desprezados - Fangio foi visto como o grande nome da temporada de 1950. O melhor desempenho de sua vida, para alguns, viria a seguir: no GP da Alemanha de 1953, com uma Ferrari, teve que superar Hawthorn e Fangio no Nordschleife para cruzar a linha de chegada em primeiro.

No ano seguinte, era líder na Mille Miglia quando bateu a 200 km/h. Seu braço direito estava engessado quando entrou no cockpit para disputar os 1000 km de Monza. Na prova, o eixo da transmissão perfurou o tanque e este causou queimaduras nas suas pernas. Foi para Buenos Aires e disputou o GP da Argentina de 1955 ainda precisando de morfina para aplacar a dor dos ferimentos. Foi segundo, compartilhando o carro com Froilán González e Maurice Trintignant. Por se recusar a parar, as queimaduras ainda estavam lá quando conquistou o terceiro lugar em Spa. Foi sua última prova na Fórmula 1.

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