O que talvez seja o único troféu que Senna um dia cobiçou e jamais conquistou, hoje, serve como peso de papel na residência dos Fullerton, na pequena Norwich, Inglaterra.
É o troféu de campeão do mundo de kart, que o piloto inglês conquistou na década de 70. Terry Fullerton, 58, nunca foi a celebridade que Ayrton se tornaria. Até hoje, trabalha assessorando jovens kartistas para pagar as contas. Mas, em uma entrevista recuperada pelo recente documentário "Senna", ele é citado pelo brasileiro como o adversário que mais admirava.
No Brasil, o longa-metragem já entrou e saiu de cartaz. Mas, na Grã-Bretanha, só estreou nos cinemas nesta semana. Estive em Londres no mês passado e pude ver que o Sunday Times fez um pequeno perfil de Fullerton, falando sobre os dias que passou como companheiro de equipe de Senna na DAP.
E o inglês não era qualquer um. Aos 25, ganhava 10 mil libras (que hoje equivelam a 45 mil libras) por ano e viajava pelo mundo fazendo aquilo que gostava.
Senna, então com 17, não era tão experiente, e era constantemente batido por Fullerton - embora não sempre.
Visto como o melhor kartista de sua época, ele explica por que não tentou voos mais altos: "O momento perfeito para eu ter me mudado para as corridas de carro teria sido em 1973, logo após ganhar o mundial. Mas eu já era pago para viajar pelo mundo e correr e não queria começar do fundo do pelotão outra vez".
Há outra razão, também. Seu irmão Alec morreu aos 21 correndo de moto, e, numa época em que entrar em fórmulas não era nem um pouco seguro, a família resistiu em apoiá-lo. Não que o pai, professor, fosse lá uma pessoa rica. Por isso mesmo, enquanto a família de Senna bancava parte de suas aventuras na Europa, Fullerton era muito mais dependente do patrocínio que arrecadava.
Fullerton abandonou o volante em 1984. Assistia às provas de Fórmula 1 pela TV, "honrado", de acordo com suas palavras, "por alguém que eu conhecia estar se dando bem por lá".
Mas não pense que as mãos de Fullerton não se fazem sentir ainda hoje na categoria: Anthony Davidson, Allan McNish e até Paul di Resta, hoje na Force India, receberam instruções dele no início de suas carreiras.
A última vez que Senna se encontrou com o ex-rival foi num paddock da Fórmula 3 britânica, em 1983. Conversaram sobre amenidades, rapidamente. Antes que a reportagem do Sunday Times mostrasse a declaração de Ayrton, citando-o nominalmente, Terry jamais teve conhecimento daqueles elogios.
Foram rivais, mas não inimigos. Fullerton olhava a vida de Senna com certa inveja, talvez, mas sem rancor, certamente. De forma que a morte do brasileiro o abalou como um raio. "Alguém muito especial havia sido retirado de nós. Eu estava num Ferry, no canal da Mancha, quando ouvi alguém comentar a notícia. Senna era o tipo de piloto que surge uma vez a cada geração. Eu corri contra Mansell e Prost e ele estava com a cabeça e o ombro à frente dos dois."
"Era como se ele fizesse tudo aqulo que eu poderia ter feito", confessa.
Sunday, June 5, 2011
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