Friday, October 21, 2011

Museo Ferrari, parte 2: a sala dos campeões


No último post, coloquei algumas impressões sobre o Museo Ferrari, que a própria equipe mantém em Maranello. Não é algo "aqui na esquina" para boa parte dos leitores, mas recomendo a visita. Afinal, é uma oportunidade de ter uma experiência mais direta com um esporte que, na esmagadora maioria das vezes, nos chega de maneira ultramediada.

Do ponto de vista museológico, e até histórico, porém, a galeria é decepcionante. Há defeitos flagrantes, muitos indesculpáveis - por exemplo, da única equipe em atividade que corria nos anos 50 e boa parte dos 60, há apenas um modelo de monoposto dessa época em exibição.

Mas os pontos mais falhos se concentram na chamada "sala dos campeões", uma das mais cobiçadas pelos visitantes. Não é por acaso que eles perdem tanto tempo lá: há um sem-número de troféus, carros e relíquias para entretê-los.

Lá estão expostos exemplares de todos os modelos Ferrari que ganharam o campeonato desde 2000, diversos troféus de 'winning constructor' (o mais antigo que vi foi de 1998), capacetes originais de campeões pela marca, de Fangio a Raikkonen - não me lembro de referências a Ascari.

Até aí, ok. O problema é a montagem. É uma sala escura, dominada por uma trilha sonora triunfalista tocada em looping que contamina o ambiente. Em algumas telas é exibido um vídeo de algumas conquistas da equipe, cortadas em forma de videoclipe. As cenas passam tão rápido que um especialista precisa de muita atenção (quando não algumas repetições) para identificar personagem e lugar de muitas das cenas.

Claro que boa parte da multidão de embasbacados (muito deles falando português) se contenta com isso. Mas ora, a Fórmula 1 é tão bem documentada, e aquilo lá é um museu... não seria mais interessante fazer algo mais didático, algo que desse mais conteúdo aos visitantes? Porque aquele vídeo (uns 5 minutos, em looping com a música triunfalista) só serve, se muito, para desaprender. Nem o nome dos pilotos, alguns dos quais morreram naqueles cockpits, eles se dignam a escrever.

Mas há coisas piores. Num momento de extremo mau gosto, o vídeo revela o ferrarista Patrick Tambay levantando a taça de vencedor do GP da Alemanha de 1982.

Para quem não sabe, poucas horas antes, a bordo de uma Ferrari, Didier Pironi havia se envolvido num acidente que o deixou meses no hospital e o afastou da F1 para sempre. Um acidente que o deixou com mais de 50 peças de metal incrustadas nas pernas, que o dr. Sid Watkins retirou em uma cirurgia realizada em plena pista.

A Ferrari prefere passar a borracha em seu funcionário a um passo da morte e editar o vídeo do pódio dando a entender que aquele foi um dia glorioso para a 'scuderia'.

Gostaria muito mais se a sala dos campeões fosse, ao invés, a sala dos mártires. Que tal colocar em exibição os modelos retorcidos que acabaram com a carreira de alguns e a vida de outros tantos? Se não instrutivo, seria ao menos mais respeitoso. Ou, melhor, coloque-os ao lado dos vencedores. Alguns acidentados merecem tanto ou mais a consideração.

Enfim, às fotos.

Visão geral das prateleiras de troféus de do público

Alguns dos capacetes, originais: Lauda (note as marcas), Scheckter, Schumacher, Raikkonen

Detalhe com alguns dos troféus

De uma época em que os carros tinham muito mais.. antenas. Detalhe do F2002, de 2002

... e mais alguns troféus

ATUALIZAÇÃO: Vendo as fotos de um amigo, me dei conta de que há, sim, uma menção (com capacete original e tudo) a Alberto Ascari na galeria dos campeões.

0 comments:

Post a Comment