Friday, October 14, 2011

Vettel, um pequeno ensaio sobre a juventude

De repente, a juventude se tornou um assunto importante. Pelo menos na Fórmula 1, na semana seguinte à conquista do bicampeonato de Sebastian Vettel, 24 anos. Venho falando disso ultimamente. No último post, considerei que as condições determinantes que levaram o piloto alemão a tantos êxitos tão cedo não deve se repetir no futuro próximo.

Mas a Fórmula 1 é um universo um tanto restrito para tais discussões. A juventude está em pauta em questões muito mais amplas. Acabo de voltar da Europa, onde meus contemporâneos estão em situação crítica.

Na Europa de Vettel, a crise econômica tirou o emprego de todos, mas especialmente dos jovens, por uma série de fatores. Mas pensemos, primeiro, no piloto: que questões passaram por sua cabeça quando escolheu o automobilismo como carreira, num país em que o acesso ao ensino superior de qualidade (sublinhe-se o 'de qualidade') é um direito efetivo? Se Sebastian quebrasse o pé em uma batida qualquer na Fórmula BMW, o que seria de sua vida? Teria de passar a vida num subemprego pelo resto da vida?

Apesar de um susto em Spa-Francorchamps em 2005, Vettel chegou ao topo e inteiro. Nestes dois anos em que passou conquistando troféus, muita gente da sua idade e de seu continente, certa feita o mais rico de todos, tem saído das mais prestigiosas universidades sem chance de emprego em suas áreas.

Na Itália, é normal ver jovens da elite intelectual como garçons em restaurantes. Muitos até abrem mão da faculdade e, mal terminam o liceu, começam a aprender algum ofício (marcenaria, mecânica) na prática, para que comecem a juntar dinheiro e experiência mais cedo.

É uma época difícil para ser jovem, a atual. Não à toa estes exercem certo protagonismo nos protestos contra o sistema que se espalham por Atenas, Nova York, Santiago do Chile - onde um outro "Sebastian", Piñera, tenta vender barato o ensino público de seu país (como fizeram os verde-oliva, aqui no Brasil) no melhor estilo Pinochet.

Hoje podemos ver a eleição de Ayrton Senna como símbolo nacional, mais de duas décadas atrás, como a personificação de um Brasil que vencia, apesar de mergulhado na inflação, na incompetência política, na pobreza e numa desigualdade social africana. É difícil dizer se Vettel conseguirá cumprir papel semelhante, como imagem, para sua geração. (Aliás, eu mesmo apostaria que não). Mas não deixa de ser curiosa a emergência deste alemão como um vencedor em meio a um mundo onde pessoas da sua idade e de sua terra ainda não conseguiram encontrar seu próprio lugar.

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