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Monday, November 17, 2008

Entre ases e reis



Nalgum canto da zona Oeste de São Paulo, ontem, ocorreu uma das maiores confraternizações do automobilismo brasileiro em tempos recentes. Todos os méritos do evento devem ser creditados a Bird Clemente, já que foi por ocasião do lançamento de seu livro, Entre Ases e Reis de Interlagos (Ed. Tempo & Memória) que os grandes nomes foram lá reunidos.

Entre Ases e Reis... era assim que nos sentíamos, um grupo de estudantes que produz um documentário para a faculdade, estávamos lá, cercados de tantas lendas, tantas histórias.

A noite, no entanto, era de Bird. Fazia-se notar logo na entrada, onde estavam expostos um Willys Interlagos, um DKW e um Maverick pilotados por este lendário louco piloto de óculos, tão rápido quanto desbocado. (Após uma pequena escada, nota-se outro carro: um protótipo com as cores da Willys. Ico colocou sua cara dentro do bólido e resumiu: “Deve ser fantástico pilotar isso aqui”. Deve ser mesmo.)

Bird esteve sempre ocupado, mas mesmo assim atencioso, simpático, caloroso. Conversava com todos. Houve um cerimonial, o enfadonho em estado puro. Patrocinadores falam (apesar do patrocínio, o livro ostenta um selo da Lei de Incentivo à Cultura: todos os brasileiros pagaram a conta). A festa foi salva quando Bird pegou o microfone e pôs-se a falar. Falou do DKW descendo o retão de Interlagos, falou de seus rivais, e falou de dois amigos: Mauro Salles e o Barão Fittipaldi.



Ambos não puderam vir. Emerson também não pôde, mas enviou uma mensagem por vídeo. O mesmo fez Alex Dias Ribeiro. Mais cerimonial. Lá estão Reginaldo Leme e Bob Sharp, respectivamente autor do prefácio e revisor da obra.

Sobem ao tablado, para receber um prêmio (um pistão de DKW convertido em troféu), a maioria dos grandes ‘volantes’ dos anos 1960, os quais prefiro omitir para não ser injusto com algum que porventura não me lembre; contudo, não há como não citar Luiz Pereira Bueno. Luizinho estava alegre, tagarela, e com razão. A festa também era dele.

Dele e de todos aqueles que fizeram e contaram a história do esporte a motor no país. Livio Oricchio, Flavio Gomes, Felipe Motta, Lito Cavalcanti. Este último me salvou, com sua camisa azul-esverdeada. Até então, minha camiseta verde destoava do mar de ternos, vestidos discretos e cores pastéis que perambulavam no salão.

Falta de pilotos? Jan Balder, Ingo Hoffmann, Marinho... haveria de ser um grid fantástico não fosse uma vernissage. Até os mortos, de Moco a Bino, foram lembrados. Era quase uma corrida. Era Interlagos que estava lá.


A obra
Desnecessário dizer que a obra já nasce um clássico. Primeiro, porque Bird é um arquivo vivo – muito vivo, por sinal – das corridas. Também porque é uma louvável iniciativa de se colocar em papel a memória automobilística brasileira. Porque boa parte dos truques de se pilotar na antiga Interlagos estão lá, sistematizados, eternizados. Porque não é todo mundo que fazia o Sargento de lado.

Edição de luxo, capa dura, infelizmente: a visão estreita dos editores ainda vêem apenas mercado desta leitura em quem tem grana, em quem compra livros para enfeitar estantes. A garotada dos blogs, os estudantes, aqueles que ainda não sabem quem é Bird Clemente permanecerão no oceano de informações rarefeitas.

Resta-nos, ao menos, o prazer da leitura, na sempre bem-vinda companhia de ases e reis.

Friday, October 10, 2008

Bird Clemente e a arte de pilotar na neblina


Bird Clemente recebe um grupo de estudantes de jornalismo em sua casa. A pauta: um documentário a respeito de Interlagos. Nada mais natural, portanto, do que entrevistar o piloto que mais correu no circuito – o antigo.

(Esclareço: não, não apareço na foto. Sequer fui à entrevista, mas sim, também faço parte deste projeto de documentário.)

Outrora um dos mais arrojados volantes do ‘automobilismo tupiniquim’, Bird leva hoje uma vida tranqüila. Isso não quer dizer, porém, que suas falas sejam mais contidas.

“O traçado novo eliminou todas as curvas de alta que havia em Interlagos. A curva de alta separa os pilotos, mas também é o momento de maior risco, e isso fez com que elas fossem suprimidas. Não interessa mais que haja acidente no automobilismo. Mas se a segurança for muito grande, se a tecnologia for muito desenvolvida, aí os gatos vão ficar todos pardos...”

Bird é do tempo em que os acidentes eram parte da corrida de automóvel, assim como as ultrapassagens. “Não tinha um comitê para julgar se a ultrapassagem foi justa ou não foi”.

A entrevista estava quase no fim quando chega um pedaço de papel nas mãos daquele que estava fazendo as perguntas. “Neblina”, estava escrito nele. Foi enviado pela mulher de Bird, que acompanhara toda a sabatina.

A pequena palavra incitou uma resposta fantástica. Bird conta que, por testar muito em Interlagos com as equipes Vemag e Willys, ele começou a perceber que quase toda noite (havia muitas corridas noturnas em Interlagos, nos anos 60) havia neblina por sobre a pista.

Assim como Senna, quando caíam as primeiras gotas de chuva, mal a neblina se formava e lá estava Bird dando voltas em Interlagos. Com o tempo, e com a visão limitada a poucos metros, o piloto começou a notar manchas no asfalto, postes, pequenos morros pelos quais o carro passava e que se tornavam referências de frenagem ou traçado. E quando, nas corridas, a névoa caía, lá estava ele na liderança.

Não é sem razão, pois, que Bird pode dizer que conheceu melhor do que ninguém aquele circuito.

Informação exclusiva: Fanáticos, preparai vossos bolsos. Em novembro, muitas histórias de Bird Clemente virão à tona.