Nalgum canto da zona Oeste de São Paulo, ontem, ocorreu uma das maiores confraternizações do automobilismo brasileiro em tempos recentes. Todos os méritos do evento devem ser creditados a Bird Clemente, já que foi por ocasião do lançamento de seu livro, Entre Ases e Reis de Interlagos (Ed. Tempo & Memória) que os grandes nomes foram lá reunidos.
Entre Ases e Reis... era assim que nos sentíamos, um grupo de estudantes que produz um documentário para a faculdade, estávamos lá, cercados de tantas lendas, tantas histórias.
A noite, no entanto, era de Bird. Fazia-se notar logo na entrada, onde estavam expostos um Willys Interlagos, um DKW e um Maverick pilotados por este lendário louco piloto de óculos, tão rápido quanto desbocado. (Após uma pequena escada, nota-se outro carro: um protótipo com as cores da Willys. Ico colocou sua cara dentro do bólido e resumiu: “Deve ser fantástico pilotar isso aqui”. Deve ser mesmo.)
Bird esteve sempre ocupado, mas mesmo assim atencioso, simpático, caloroso. Conversava com todos. Houve um cerimonial, o enfadonho em estado puro. Patrocinadores falam (apesar do patrocínio, o livro ostenta um selo da Lei de Incentivo à Cultura: todos os brasileiros pagaram a conta). A festa foi salva quando Bird pegou o microfone e pôs-se a falar. Falou do DKW descendo o retão de Interlagos, falou de seus rivais, e falou de dois amigos: Mauro Salles e o Barão Fittipaldi.
Ambos não puderam vir. Emerson também não pôde, mas enviou uma mensagem por vídeo. O mesmo fez Alex Dias Ribeiro. Mais cerimonial. Lá estão Reginaldo Leme e Bob Sharp, respectivamente autor do prefácio e revisor da obra.
Sobem ao tablado, para receber um prêmio (um pistão de DKW convertido em troféu), a maioria dos grandes ‘volantes’ dos anos 1960, os quais prefiro omitir para não ser injusto com algum que porventura não me lembre; contudo, não há como não citar Luiz Pereira Bueno. Luizinho estava alegre, tagarela, e com razão. A festa também era dele.
Dele e de todos aqueles que fizeram e contaram a história do esporte a motor no país. Livio Oricchio, Flavio Gomes, Felipe Motta, Lito Cavalcanti. Este último me salvou, com sua camisa azul-esverdeada. Até então, minha camiseta verde destoava do mar de ternos, vestidos discretos e cores pastéis que perambulavam no salão.
Falta de pilotos? Jan Balder, Ingo Hoffmann, Marinho... haveria de ser um grid fantástico não fosse uma vernissage. Até os mortos, de Moco a Bino, foram lembrados. Era quase uma corrida. Era Interlagos que estava lá.
A obra
Desnecessário dizer que a obra já nasce um clássico. Primeiro, porque Bird é um arquivo vivo – muito vivo, por sinal – das corridas. Também porque é uma louvável iniciativa de se colocar em papel a memória automobilística brasileira. Porque boa parte dos truques de se pilotar na antiga Interlagos estão lá, sistematizados, eternizados. Porque não é todo mundo que fazia o Sargento de lado.
Edição de luxo, capa dura, infelizmente: a visão estreita dos editores ainda vêem apenas mercado desta leitura em quem tem grana, em quem compra livros para enfeitar estantes. A garotada dos blogs, os estudantes, aqueles que ainda não sabem quem é Bird Clemente permanecerão no oceano de informações rarefeitas.
Resta-nos, ao menos, o prazer da leitura, na sempre bem-vinda companhia de ases e reis.
Desnecessário dizer que a obra já nasce um clássico. Primeiro, porque Bird é um arquivo vivo – muito vivo, por sinal – das corridas. Também porque é uma louvável iniciativa de se colocar em papel a memória automobilística brasileira. Porque boa parte dos truques de se pilotar na antiga Interlagos estão lá, sistematizados, eternizados. Porque não é todo mundo que fazia o Sargento de lado.
Edição de luxo, capa dura, infelizmente: a visão estreita dos editores ainda vêem apenas mercado desta leitura em quem tem grana, em quem compra livros para enfeitar estantes. A garotada dos blogs, os estudantes, aqueles que ainda não sabem quem é Bird Clemente permanecerão no oceano de informações rarefeitas.
Resta-nos, ao menos, o prazer da leitura, na sempre bem-vinda companhia de ases e reis.
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