Sunday, February 1, 2009

Quem tem boca vaia Roma

Aquela peça inestimável de sabedoria popular que diz “quem tem boca vai a Roma”, dirigida a pessoas com vergonha de pedir indicações de trânsito, na verdade não passa de uma corruptela de um outro ditado já esquecido. Dizia-se antes “quem tem boca vaia Roma”, ou seja, que aqueles dotados de meios para expressar sua opinião sempre se inflamam contra o poder central.

No que concerne a Fórmula 1, no entanto, a expressão ganhou outro sentido recentemente, quando o promotor da Superbike Maurizio Flammini tornou pública a ideia de realizar um GP de Fórmula 1 nas ruas da cidade dos césares.

A reação foi imediata por parte de dois dos mais poderosos cartolas do esporte a motor italiano. Enrico Gelpi, presidente do Automóvel Clube da Itália, qualificou o evento como um “desafio inimaginável”. E Luca di Montezemolo achou simplesmente estúpido, já que a Itália possui uma infinidade de autódromos pouco utilizados. Ambos foram enfáticos ao defender Monza como sede do GP da Itália.

Pode soar improvável, mas o projeto de Flammini não chega a ser incoerente. Monza é sim o grande palco do GP da Itália - desde 1921, apenas cinco vezes o evento não foi disputado lá; e Monza é o único circuito que abrigou o GP da Itália mais de uma vez. Houve uma época, porém, em que o automobilismo italiano estava calcado nas provas de rua.

Era uma época em que o nome oficial da categoria era Campeonato Mundial de Pilotos e a corrida de Monza era apenas
uma entre cinco ou seis provas de Fórmula 1 que ocorriam em solo italiano todo ano. Certamente a mais importante, mas apenas uma entre tantas. Em 1954, por exemplo, houve cinco corridas, sem contar os inúmeros eventos de Fórmula 2, carros esporte, a Mille Miglia e a Targa Florio.

A maioria ocorria em ruas ou estradas. Eram disputadas em Nápoles, Siracusa, Milão, Turim, Bari (onde Chico Landi venceu um GP de carros esporte, em 1952), Pescara entre outras, e em Roma!

O Gran Premio di Roma é uma história à parte. Foi um evento quase anual que começou em 1925 (quatro anos depois, portanto, do primeiro Gran Premio d’Italia, ocorrido em Brescia), cuja categoria variava: ora Fórmula Libre ou Grand Prix, ora (após a mudança de nomenclatura, em 1948) Fórmula 1, Fórmula 2 ou carros de turismo. Até os anos 50, sempre em circuitos de rua. Uma infinidade deles: Castel Fusano, Littorio, Tre Fontane, Caracalla (abaixo)...

E foi neste último, em 1947, que a Ferrari obteve a primeira vitória de sua história como construtora, numa prova de Turismo, com o modelo 125C com Franco Cortese ao volante (acima). Cinquenta anos depois, para comemorar o feito, a marca organizou um desfile nas ruas próximas ao traçado de 3,440km entre a Vialle di Terme di Caracalla e a Vialle Guido Baccelli.

Em 1963, o GP de Roma passou a ser disputado no circuito fechado de Vallelunga, quase sempre por carros de Fórmula 2 e, posteriormente, de Fórmula 3000. O último vencedor de uma corrida com este nome foi Alessandro Zanardi, em 91.

Apesar de nunca ter sido disputado em Roma, o próprio GP da Itália já ocorreu e pistas urbanas. Isto, porém, é história para o próximo post.




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