Wednesday, March 25, 2009

Columbine, Calligaris e gasolina (parte 1)

Se quiserem entender de automobilismo, leiam o caderno de esportes por último, ou melhor, nem leiam- a poucos dias do início da temporada de Fórmula 1 2009, acho um bom momento para fazer afirmações radicais.

Os jornais, ou melhor, a divisão dos jornais em cadernos é um dos maiores problemas do jornalismo impresso do qual ninguém fala. É por causa disso, por exemplo, que a cobertura das pré-temporadas da F1 são tão arrastadas e cheias de boataria.

Tudo isso pra dizer que semana passada li um artigo sobre automobilismo escrito por Contardo Calligaris, no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo (19/03/2009). Na verdade, nem a palavra “automobilismo” estava escrita: era um artigo sobre assassinos em massa que matam dezenas em um só dia e freqüentemente se matam depois. Como aqueles de Columbine.

Calligaris, psicanalista cujas colunas acompanho faz tempo, começa traçando um panorama dessas ocorrências e aponta a dificuldade de estabelecer um padrão de motivos que levam pessoas a cometer tais atos: umas são mais abastadas, outras menos, é indiferente terem emprego ou não, terem relacionamento conflituoso com as vítimas ou não.

Dois pontos, no entanto, emergem como denominadores comuns: os algozes são sempre homens, e a matança é sempre pública (nunca o assassino está escondido). Ou seja, os gestos são atitudes masculinas que precisam ocorrer em frente aos olhos dos outros. Uma conclusão arrebatadora vem a seguir. “A identidade da gente é um tecido de imagens incertas; nesse jogo de espelhos, há poucos atos ‘reais’, que possam dizer a que viemos sem que seu sentido dependa do olhar dos outros. Como dizia um psicanalista famoso, é possível que haja só dois atos dessa qualidade: dar à luz e morrer. Claro, para ‘meninos’ só sobraria morrer. Mas acrescento: morrer e, talvez, matar”.

Ok, mas... o que o automobilismo tem a ver com isso? A resposta vem amanhã no próximo post (caso contrário, este ficaria muito longo e teórico, e poucos de vocês chegariam até o fim). Antes, porém, é interessante analisar alguns dados fornecidos por Calligaris: segundo ele, há uma epidemia de tais casos nos EUA, desde Columbine em 1999, e na Alemanha, desde 2002. De fato, nesses dois países ocorreram massacres do tipo agora mesmo, em março. Houve um caso na Escócia, em 1996, e dois na Finlândia, anos passado e retrasado.

Alemanha e Finlândia, dois países que, juntos, levaram sete títulos mundiais de F1 nos últimos dez anos. A Escócia tem tradição no esporte, e em meados dos anos 1990 Coulthard era um piloto promissor, lembram? Quanto aos EUA, faltou o colunista ressaltar que os massacres se concentram no sul do país... onde a Nascar é extremamente popular.

Claro que pode ser apenas uma enorme coincidência, mas que o automobilismo está completamente imerso nas sociedades onde foram registrados tais eventos, ah ele está.

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