Era um asfalto novo, recente, cheio de ondulações. Era uma pista nova, que há um par de semanas só existia em Playstations e simuladores. Era um dia chuvoso, esse anormal, embora não incomum quadro climático que, alega-se, transforma os eventos esportivos em loterias.
Pode-se argumentar que é uma redução imperdoável dizer que um campeonato é ganho em uma corrida, mas provavelmente dirão que foi na Coreia (do Sul, embora a FIA não se importe em dar por encerrada uma guerra em trégua há mais de 50 anos) que Alonso conquistou seu tri, se ele de fato o fizer no final do ano.
Em todo caso, não é errado dizer que lá em Yeongam ele assumiu a liderança do campeonato pela segunda (e definitiva?) vez - numa prova, aliás, durante a qual a posição dos pilotos na tabela rodou mais do que a roleta do Casino de Monaco.
E foi insólito, de fato, desde o primeiro dia de treinos até o estouro do motor da Red Bull que liderava, na pista e na projeção de pontos. Vettel pode ter errado muito ao longo do ano, mas justo quando a liderança do mundial se desfez em uma cortina de fumaça, ele fazia uma corrida impecável.
Os louros caem, então, nas mãos de Alonso. O espanhol dos chiliques, da Renaut de Symonds e Briatore, da troca suja de posições em Hockenheim.
Mas enfim, quem disse que a Fórmula 1, ou o esporte em geral, devem ser o mais límpido reflexo da Justiça? A taça de campeão caminha a passos largos para longe do carro mais rápido, ou, quem sabe, dos pilotos supostamente "melhores", ou pelo menos aqueles que não precisaram apertar o botão do rádio para vencer um GP em 2010. Mas com que direito a gente cobra do automobilismo que ele seja uma versão "corrigida" deste torpe mundo real, do outro lado da tela da tv?
Há os que dirão que este é o campeonato que ninguém quer vencer. Nada poderia ser mais falso - pois se há algo no paddock mais forte que o fetichismo da grana, é o fetichismo dos troféus. Todos querem vencer, mais do que qualquer coisa. Acontece que a vitória é algo frágil, contingente demais para ser alcançado com uma simples lógica, um simples mecanismo mental. E ver os pilotos lutando para domar essa força que eles jamais conseguirão conter (e eventualmente acabará lhes consumindo) talvez seja a única coisa verdadeiramente bonita na espinhosa Fórmula 1 atual.
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