Friday, March 4, 2011
Quando menos é mais - um patrocínio no lugar certo
A Braun é uma empresa que fabrica produtos eletrônicos de consumo doméstico. Foi fundada nos anos 1920, em Frankfurt. Ela se tornou subsidiária da Gillette em meados dos anos 80 e, atualmente, é comandada pelo grupo Procter and Gamble.
Mas sua história empresarial é menos conhecida que sua trajetória no design. Como é natural para uma empresa alemã do século XX, seus produtos sempre estiveram intimamente ligados à escola funcionalista de design. Sua fama nesse ramo se deve, em grande parte, a Dieter Rams, chefe do setor entre 1961 e 1995.
Na Fórmula 1, estampou em 1991 a carenagem e o aerofólio das Tyrrell de Stefano Modena (foto) e Satoru Nakajima.
Pode-se especular, a princípio, que o pouco tempo de sobrevivência da marca na categoria se deva ao desempenho da equipe: surpresa do ano anterior, com o (então) intrépido Jean Alesi, a Tyrrell conseguiu bons resultados na primeira metade da temporada, mas afundou rápido grid adentro, mergulhando no ostracismo.
A questão, no entanto, muda de perspectiva após conhecermos um pouco melhor o pensamento de Dieter Rams. Deyan Sudjic cita o designer em seu livro "A Linguagem das Coisas": "Ele descrevia os barbeadores e liquidificadores da Braun como mordomos ingleses, discretamente invisíveis quando não são necessários, mas sempre prontos para atuar sem esforço quando chamados".
Ora, para essa empresa, não faz sentido patrocinar uma equipe de ponta, nem se tiver orçamento suficiente para estampar sua marca nos bólidos favoritos.
As transmissões de TV no início dos anos 90 eram diferentes das atuais. Os líderes apareciam muito mais, ocupando a quase totalidade das duas horas da transmissão.
Agora imagine um liquidificador de 20 anos atrás, barulhento, ligado por duas horas seguidas. Ninguém quer isso. Todos querem um liquidificador que funcione quando necessário e depois possa ser rapidamente esquecido. Como uma Tyrrell sendo ultrapassada por uma Williams ou McLaren, durante uma corrida em 1991.
QUANDO MAIS É MAIS
Uma exibição quase constante de duas horas é a publicidade perfeita, no entanto, para um outro tipo de produto: o cigarro. A vontade de fumar deve ser reforçada constantemente, sem descanso.
Eis um bom momento para lembrarmos das principais equipes dos anos 90: a McLaren com a pintura Marlboro (e depois West), a Williams Camel/Rothmans, a Ferrari Marlboro e a Benetton Camel/Mild Seven. Juntas, lideraram a quase totalidade das voltas percorridas na década inteira, estampando maços de cigarro.
Se produtos domésticos não faziam sentido, há 15 ou 20 anos, em carros capazes de vencer mais de duas corridas por ano, uma tabacaria não podia se dar ao luxo de estar fora do pódio. Do contrário, estaria jogando dinheiro fora.
Pensando assim, faz muito mais sentido o rompimento daquilo que parceria do século na Fórmula 1, entre McLaren e Marlboro. Tudo funcionara muito bem por mais de 20 anos. Até que os carros de Ron Dennis amargaram três temporadas seguidas sem vitória, e a Phillip Morris não hesitou em rescindir o contrato.
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