Sunday, January 11, 2009

Tripoli, a memoriosa



O que seria da pré-temporada sem o Youtube? O título do vídeo acima é Tripoli 1937, seguido de inscrições no alfabeto árabe, o que basicamente quer dizer que quem o postou deve ser líbio e não viu a obra até o final, pois trata-se de um compêndio dos GPs de Trípoli de 1937, 38 e 39. Provavelmente feito por um subordinado de Gadafi ("GreatLybia Channel") que reeditou os reviews destas temporadas.

Naquela época Trípoli era parte da Itália e sua corrida era bancada por Mussolini através da loteria nacional, rendendo grandes somas ao vencedor e atraindo os melhores carros. O circuito tinha instalações enormes e uma extensão de 13 km, suficientes para circundar o Lago Mellaha a uma velocidade considerável, aliás, uma das maiores médias de velocidade da época, senão a maior.


O vídeo em si é um pouco estranho. Tem um logotipo da Mercedes logo no início, uma narração em inglês britânico e uma trilha sonora digna de um filme de Hitchcock. No entanto, a produção original deve ser mesmo alemã, delatada por inscrições como “Grosser Preis von Tripolis 1939”. Pela forma como a narração trata Mussolini e ‘o Império Alemão’, ou seja, no pretérito perfeito, pode-se inferir que foi produzida no pós-Guerra.

Não a toa, aliás, é um vídeo da Mercedes. Nesses três anos, a equipe da fábrica alemã venceu as três provas, todas com Hemann Lang ao volante e três especificações diferentes. Em 1937, com um carro de potência ilimitada, o que convencionou-se chamar de Fórmula Libre. No ano seguinte, entendeu-se por bem que seria perigoso correr a toda velocidade no circuito mais rápido do mundo e os carros de Grand Prix, à época já com restrições, foram utilizados. Já em 1939, os italianos se encheram de ter que pagar um prêmio milionário aos germânicos e resolveram determinar que a corrida fosse disputada apenas por voiturettes (batizados de Fórmula 2, vinte anos depois), com motores de 1,5 litro.

A Mercedes, no entanto, não se deu por vencida e construiu um carro nestas especificações, o W165, apenas para inscrevê-los – e vencer – em Trípoli. Os alemães jamais inscreveram este carro depois em qualquer outro evento.

A Auto Union não produzira carros a tempo para os dois últimos anos. Porém, em 1937, ela e a Mercedes conquistaram juntas os oito primeiros lugares da prova.

O vídeo também vale pelas imagens dos bastidores, como o desembarque dos carros na costa africana, o trabalho de Box alemão. Neubauer está lá. De óculos, como sempre, ereto, sorridente – às vezes acho que ele não passa de um personagem de Henry Miller em Sin City.

A cena mais insólita que as câmeras captaram, certamente, está na corrida de 1938. Lang para nos boxes e o carro é abastecido. No entanto, um pouco de combustível (uma solução à base de benzeno, muito perigosa) espirra sobre as costas do piloto, que volta á prova após nada mais que um singelo banho de água... para vencer.

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