Na Fórmula 1, as bandeiras amarelas em toda a pista são eventos indesejados e inconstantes, embora cada vez mais comuns. Por isso, talvez seja melhor pensar na Nascar, ou em qualquer categoria norte-americana, de preferência que corra em ovais.
Nos ovais, a bandeira amarela é institucionalizada. Antes ela não existia. Se um carro batesse no muro, era recolhido sem que a corrida sofresse interrupção. Há fortes indícios para crer que a introdução das bandeiras amarelas nos EUA tenha coincidido com o início das transmissões televisivas ostensivas dos campeonatos automobilísticos.
Não é difícil entender o porquê. Uma paralisação a poucas voltas do final nivela os desempenhos e garante um final mais disputado, um clímax hollywoodiano ao qual o público está mais acostumado, o que mantém a audiência estável. Além disso, a distribuição delas ao longo da prova possibilita a inserção de comerciais sem perda do conteúdo.
Algumas pesquisas divulgadas nos EUA mostram lados interessantes desta relação. O New York Times publicou no mês passado uma reportagem sobre uma pesquisa conduzida pela NYU e Universidade da Califórnia, que indica que o público televisivo não apenas tolera, mas gosta que a programação seja interrompida.
Segundo o artigo, dois grupos de universitários foram colocados para assistir um mesmo episódio de uma série cômica. Um dos grupos o assistiu da maneira como foi veiculado, com comerciais; ou outro, sem interrupções. Por uma margem estatisticamente válida, os que o assistiram com comerciais gostaram mais do episódio.
A abrangência do fenômeno não se limita nem ao lado positivo do intervalo nem à restrição da tv, segundo a matéria do Times. Inserir interrupções em uma atividade prazerosa a potencializa, da mesma forma que suportar condições irritantes, como por exemplo o som de um aspirados de pó, é mais difícil quando elas sofrem pausas.
Há também conclusões empíricas. O professor Mauro Wilton, da Escola de Comunicação e Artes da USP relata uma experiência da Calvin Klein, que comprou todas as cotas de espaços publicitários de uma sessão de filmes semanal no horário nobre da televisão. Ela deixava o filme transcorrer, colocando inserções apenas antes e depois do programa. A audiência caiu.
“A razão para isso, argumentamos, é que tendemos a nos adaptar a uma variedade de experiências conforme elas acontecem (...). Ouvir uma música, assistir a um programa de tv, fazer uma massagem: tudo isso começa muito agradável, e em poucos minutos nos acostumamos. As interrupções quebram isso”, afirmou ao NYT o professor de marketing Leif Nelson, da Universidade da Califórnia em San Diego.
No Brasil, a Fórmula 1 foi transmitida com interrupções até 1988. A Globo, de 81 até esta data, costumava colocar algo entre cinco inserções de 30s cada, ou menos, durante a corrida. Não havia Safety Car nesta época. Causa grande ruído para os olhos atuais. Quando foi banido, nunca mais voltou.
A própria matéria admite que “nem todas as atividades agradáveis melhoram com interrupções”, especialmente as narrativas mais complexas. Podemos pensar que as provas de esporte a motor são, sim, narrativas muito complexas. As variáveis são muitas, a história não é linear, os carros (em teoria) podem abandonar a qualquer momento, os cortes da tv e as informações numéricas incompletas que ela divulga fraturam ainda mais a compreensão. É um esporte não-linear por excelência.
O automobilismo norte-americano resolveu isso da forma mais fácil. Mas será que ainda podemos chamá-lo de esporte?
Nos ovais, a bandeira amarela é institucionalizada. Antes ela não existia. Se um carro batesse no muro, era recolhido sem que a corrida sofresse interrupção. Há fortes indícios para crer que a introdução das bandeiras amarelas nos EUA tenha coincidido com o início das transmissões televisivas ostensivas dos campeonatos automobilísticos.
Não é difícil entender o porquê. Uma paralisação a poucas voltas do final nivela os desempenhos e garante um final mais disputado, um clímax hollywoodiano ao qual o público está mais acostumado, o que mantém a audiência estável. Além disso, a distribuição delas ao longo da prova possibilita a inserção de comerciais sem perda do conteúdo.
Algumas pesquisas divulgadas nos EUA mostram lados interessantes desta relação. O New York Times publicou no mês passado uma reportagem sobre uma pesquisa conduzida pela NYU e Universidade da Califórnia, que indica que o público televisivo não apenas tolera, mas gosta que a programação seja interrompida.
Segundo o artigo, dois grupos de universitários foram colocados para assistir um mesmo episódio de uma série cômica. Um dos grupos o assistiu da maneira como foi veiculado, com comerciais; ou outro, sem interrupções. Por uma margem estatisticamente válida, os que o assistiram com comerciais gostaram mais do episódio.
A abrangência do fenômeno não se limita nem ao lado positivo do intervalo nem à restrição da tv, segundo a matéria do Times. Inserir interrupções em uma atividade prazerosa a potencializa, da mesma forma que suportar condições irritantes, como por exemplo o som de um aspirados de pó, é mais difícil quando elas sofrem pausas.
Há também conclusões empíricas. O professor Mauro Wilton, da Escola de Comunicação e Artes da USP relata uma experiência da Calvin Klein, que comprou todas as cotas de espaços publicitários de uma sessão de filmes semanal no horário nobre da televisão. Ela deixava o filme transcorrer, colocando inserções apenas antes e depois do programa. A audiência caiu.
“A razão para isso, argumentamos, é que tendemos a nos adaptar a uma variedade de experiências conforme elas acontecem (...). Ouvir uma música, assistir a um programa de tv, fazer uma massagem: tudo isso começa muito agradável, e em poucos minutos nos acostumamos. As interrupções quebram isso”, afirmou ao NYT o professor de marketing Leif Nelson, da Universidade da Califórnia em San Diego.
No Brasil, a Fórmula 1 foi transmitida com interrupções até 1988. A Globo, de 81 até esta data, costumava colocar algo entre cinco inserções de 30s cada, ou menos, durante a corrida. Não havia Safety Car nesta época. Causa grande ruído para os olhos atuais. Quando foi banido, nunca mais voltou.
A própria matéria admite que “nem todas as atividades agradáveis melhoram com interrupções”, especialmente as narrativas mais complexas. Podemos pensar que as provas de esporte a motor são, sim, narrativas muito complexas. As variáveis são muitas, a história não é linear, os carros (em teoria) podem abandonar a qualquer momento, os cortes da tv e as informações numéricas incompletas que ela divulga fraturam ainda mais a compreensão. É um esporte não-linear por excelência.
O automobilismo norte-americano resolveu isso da forma mais fácil. Mas será que ainda podemos chamá-lo de esporte?
(Matéria do NYT retirada de caderno especial publicado na Folha de S. Paulo)
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