Wednesday, June 24, 2009
O automobilismo é um anacronismo
Mal a notícia do cancelamento da cisão entre Fota e FIA começa a se espalhar, já estamos comemorando. A Fórmula 1 não se quebrará em duas. Mas... por que então estamos comemorando, se tudo continuará igual? Estamos felizes porque tiraram o bode da sala?
Convenhamos, o imbróglio das últimas semanas pode até ter sido a disputa pelo poder (financeiro incluso) entre alguns senhores de terno. Mas essa briga sempre existiu, e nem por isso houve algum dia uma ameaça tão concreta de divisão da categoria. A relação de poderes na Fórmula 1 fora da pista foi seriamente abalada, mas talvez não tanto pelos problemas internos dessa relação. A crise na Fórmula 1 é externa à Fórmula 1.
Não consigo deixar de pensar na hipótese de toda essa briga entre FIA e Fota ser um sintoma de um fenômeno um pouco maior: um deslocamento do automobilismo na esfera e no imaginário social.
Ou então o que seria o esporte a motor senão a exaltação da máquina, da liberdade individual, do movimento e deslocamento humanos ampliados, do otimismo com o progresso? Há muito o mito do progresso vem perdendo seu vigor. Não há metrópole sem engarrafamentos. Vive-se uma crise econômica de proporções não desprezíveis.
O automobilismo é um anacronismo, tanto quanto o Art Nouveau: ambos começaram a existir quase simultaneamente, nos mesmos lugares e pelo mesmo motivo. Mas enquanto já há muito não se constroi mais prédios em Jugendstil, a Fórmula 1 sobrevive.
Sobrevive, mas não tem mais aquela capacidade de produzir narrativas de outros tempos, tampouco aquela capacidade de produzir imagens... Isso não quer dizer que as corridas irão acabar (ou por acaso todas as casas em Praga foram demolidas nos anos 50?), muito pelo contrário, mas que ele há de se adaptar aos novos tempos, e isso não se faz sem um certo trauma.
Que a Fórmula 1 se dividisse em duas no ano que vem ou permanecesse única, assistir corridas não vai deixar de ser um pouco como ir ao museu. O que não é nem um pouco depreciativo: ainda podemos nos maravilhar vendo Klimts e Schieles, certo?
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