Roland Barthes não estava no autódromo. Não teria como, já há 30 anos ausentado do mundo dos vivos – mas recorro a ele para falar do GP Brasil.
Barthes desenvolveu um método funcional para ‘ler’ uma fotografia. Disse ele que as imagens são constituídas de “studium” e “punctum”. O primeiro é o contexto, o pano de fundo. Já o “punctum” é aquilo que destoa, o deslocado, o que “puxa” os olhos do espectador.
Importante dizer: toda e qualquer fotografia tem um studium; mas o punctum só existe em algumas delas.
Se formos ‘ler’ o GP do Brasil, o studium é facilmente decifrável: Interlagos, a temperatura do asfalto, a temperatura ambiente; a disputa pelo campeonato, a performance incontestavelmente superior das Red Bull, o maior número de pontos de Alonso.
A diferença é que há muito tempo na Fórmula 1 não víamos um punctum tão claro e preciso: a pole position de Nico Hulkenberg.
Um alemãozinho em seu ano de estréia que vagou pelas pistas da temporada gozando de pleno anonimato no meio do pelotão – ao menos para o espectador médio. E de repente ele tira uma volta cabal e precisa da cartola, numa demonstração de timing e de cabeça fria que poucos pilotos mostraram em 2010.
Hulkenberg estava com os dias contados na Williams, não porque seus resultados foram aquém, mas porque Pastor Maldonado estava prestes a desaguar milhões de euros garimpados dos poços de petróleo de Maracaibo na conta bancária de Grove. E, subitamente, Hulkenberg traz no bolso a primeira pole position para o time em mais de cinco anos.
O sol brilhou com força em São Paulo no domingo, traçando destino incontornável para Hulk: ser engolido pelo pelotão. Cabia a ele oferecer resistência. E o fez, com talento, acalorando as primeiras voltas de campeões do naipe de Alonso e Hamilton, para se transformar, depoi, em apenas mais um pontinho azul dando voltas na pista.
Muito mais aconteceu no GP. No pódio, os três candidatos ao título embolaram a disputa e prometem tornar o GP de Abu Dhabi muito mais emocionante do que a pista faz por merecer.
A Red Bull levou, incontestável, o título de construtores. Já sabíamos, afinal, que ela tinha o melhor carro. Os pilotos, apesar de estarem competindo contra faster-than-you-Alonso, ainda têm de provar que são capazes de ganhar um campeonato.
Brasileiros, como de costume, tiveram corridas estropiadas. Após problemas em pit stops, Massa, enfurecido nos últimos pelotões, roubou a cena nas derradeiras voltas com diversas ultrapassagens, algumas delas no grito.
Foto: Lorenzo Bellanca/LAT Photographic
Monday, November 8, 2010
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