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Tuesday, November 29, 2011

Outro lado (mea culpa)

A história parece velha, num mundo que gira com tanta pressa (a bola da vez é o Raikkonen na outra-nova "Lotus" e blá blá blá). Vale a pena, de vez em quando, porém, não se deixar atropelar.

Domingo passado, escrevi um post sobre o GP do Brasil - Red Bullshit - defendendo a hipótese de um jogo de equipe ter invertido as posições entre Sebastian Vettel e Mark Webber durante a prova, com o objetivo de dar ao australiano a chance de lutar pelo vice-campeonato - a manobra, se existiu, o fez ao menos subir para terciero lugar na tabela.

Surgiram outras linhas de pensamento. O jornalista Luis Fernando Ramos, profissional do meio, apurou que havia, de fato, um problema de câmbio no carro de Vettel. Se isso for verdade, configura prova material, algo que um blogueiro sem acesso ao paddock como eu não pode nem tem interesse em contestar.

Por mais que ainda restem suspeitas, o post anterior deveria ter deixado claras ambas as versões do fato. Deixo aqui um mea culpa.

Sunday, November 27, 2011

Red Bullshit


A salvação do GP do Brasil, acreditávamos, viria de cima. Só a chuva poderia salvar a prova, última etapa de um campeonato há muito decidido, do marasmo do domínio das Red Bull.

No sábado e no domingo, nuvens carregadíssimas orbitaram Interlagos, e não caiu uma gota de água sequer. Ao fim e ao cabo de 71 voltas, foi uma corrida seca em um asfalto seco. Dito e feito, Vettel e Webber dominaram grid e pódio em São Paulo. Mas não nesta ordem o tempo todo.


Vettel, claro, largou na ponta e lá permaneceu, sem ser incomodado. Até que, pouco menos de vinte voltas completadas, ouve-se o rádio da Red Bull dizendo que Vettel tem problemas de câmbio. A diferença entre ele e Webber diminui, este passa o companheiro, e dispara.

O normal seria o problema fazer Vettel ser tragado pelo pelotão. Não é o que acontece. Ele escolta o companheiro até a quadriculada. Com isso, Webber, que estava na briga pelo vice, com Button, Alonso e Hamilton, chega ao terceiro lugar no campeonato - um ponto à frente do espanhol, quarto. Jogo de equipe. Claro, mas disfarçado. Ironia suprema, a equipe que não deixou os pilotos inverterem posições no ano passado - e por isso conquistaram o campeonato - agora lançam mão do artifício.

Atrás dos imbatíveis Red Bull, a prova não foi de todo em vão. Houve brigas entre Alonso e Button, toque entre Schumacher e Bruno Senna, provas de recuperação, abandonos (Hamilton, este sim, traído por seu câmbio). Agitado, até, para um fim de semana do qual não se podia esperar muito.

Mas o assunto, mesmo, será o jogo de equipe dos líderes. Detratores da manobra irão erguer o dedo em riste e discursar sobre ética. Muito barulho por nada.

Foto: copyright Getty Images

Friday, November 25, 2011

Grande Treino do Brasil

Foram muitos capacetes incomuns que riscaram o asfalto de Interlagos durante a manhã desta sexta. Não falo das pinturas especiais que muitos pilotos regulares estão usando. Falo de Jean-Éric Vergne (foto), Jan Charouz, Luiz Razia, Nico Hulkenberg e Romain Grosjean.

Os dois últimos já passaram pela categoria, em temporadas pretéritas - Hulkenberg até teve a glória de marcar uma pole, em solo paulista. Os demais jamais largaram - no máximo, testaram - na Fórmula 1.

Apesar de desconhecidos da maioria, nenhum deles tem um currículo horrível. Charouz parece se dar melhor com protótipos do que fórmulas, mas só isso. Pode-se dizer, igualmente, que nenhum dos listados seja a grande promessa do automobilismo vindouro.

Estavam lá, em suma, para ganhar experiência ou dar apoio técnico (leia-se grana) ao time. Apesar de nenhum deles ter treinado mais do que uma hora e meia (e o fim de semana deles já acabou, antes do meio-dia), suas presenças são sintomáticas de como a Fórmula 1 chega ao GP do Brasil: descontraída, com a impressão de que o ano já acabou.

Devem estar cansados, mecânicos e técnicos, de tantas viagens, ao fim da temporada mais longa de todos os tempos. E há muito pouco em jogo.

Pela segunda vez, um GP do Brasil é disputado com o campeonato decidido. Há uma pontinha de sensação esgotamento da categoria. O evento em si parece mais secundário do que os rodízios de churrascos e os litros de caipirinha. Na corrida em si, há algo de irrelevante. Treine-se então, para a temporada de 2012. Talvez até seja divertido.

Monday, November 8, 2010

GP do Brasil 2010 - Studium e punctum

Roland Barthes não estava no autódromo. Não teria como, já há 30 anos ausentado do mundo dos vivos – mas recorro a ele para falar do GP Brasil.

Barthes desenvolveu um método funcional para ‘ler’ uma fotografia. Disse ele que as imagens são constituídas de “studium” e “punctum”. O primeiro é o contexto, o pano de fundo. Já o “punctum” é aquilo que destoa, o deslocado, o que “puxa” os olhos do espectador.

Importante dizer: toda e qualquer fotografia tem um studium; mas o punctum só existe em algumas delas.

Se formos ‘ler’ o GP do Brasil, o studium é facilmente decifrável: Interlagos, a temperatura do asfalto, a temperatura ambiente; a disputa pelo campeonato, a performance incontestavelmente superior das Red Bull, o maior número de pontos de Alonso.

A diferença é que há muito tempo na Fórmula 1 não víamos um punctum tão claro e preciso: a pole position de Nico Hulkenberg.

Um alemãozinho em seu ano de estréia que vagou pelas pistas da temporada gozando de pleno anonimato no meio do pelotão – ao menos para o espectador médio. E de repente ele tira uma volta cabal e precisa da cartola, numa demonstração de timing e de cabeça fria que poucos pilotos mostraram em 2010.

Hulkenberg estava com os dias contados na Williams, não porque seus resultados foram aquém, mas porque Pastor Maldonado estava prestes a desaguar milhões de euros garimpados dos poços de petróleo de Maracaibo na conta bancária de Grove. E, subitamente, Hulkenberg traz no bolso a primeira pole position para o time em mais de cinco anos.

O sol brilhou com força em São Paulo no domingo, traçando destino incontornável para Hulk: ser engolido pelo pelotão. Cabia a ele oferecer resistência. E o fez, com talento, acalorando as primeiras voltas de campeões do naipe de Alonso e Hamilton, para se transformar, depoi, em apenas mais um pontinho azul dando voltas na pista.

Muito mais aconteceu no GP. No pódio, os três candidatos ao título embolaram a disputa e prometem tornar o GP de Abu Dhabi muito mais emocionante do que a pista faz por merecer.

A Red Bull levou, incontestável, o título de construtores. Já sabíamos, afinal, que ela tinha o melhor carro. Os pilotos, apesar de estarem competindo contra faster-than-you-Alonso, ainda têm de provar que são capazes de ganhar um campeonato.

Brasileiros, como de costume, tiveram corridas estropiadas. Após problemas em pit stops, Massa, enfurecido nos últimos pelotões, roubou a cena nas derradeiras voltas com diversas ultrapassagens, algumas delas no grito.

Foto: Lorenzo Bellanca/LAT Photographic


Sunday, August 22, 2010

Os 300 de Barrichello (número 100)

Rubens Barrichello, o mais longevo piloto de Fórmula 1 de todos os tempos, crê que largará para seu grande prêmio número 300 na Bélgica, daqui a uma semana. Como este blog segue os cálculos do banco de dados Stats F1, considera-se que ele possui 297 GPs já disputados, mas contabiliza 300 inscrições desde a última prova, na Hungria.

Um número apropriado para relembrar alguns marcos de sua carreira. Comecemos com o 100o GP em que esteve inscrito, que, por acaso, é bastante especial. Trata-se do GP do Brasil de 1999, em Interlagos, uma das suas melhores apresentações, senão a melhor, em seu próprio país. Obteve a terceira posição no grid de largada e, aproveitando-se de um erro ou problema de Mika Hakkinen, assumiu a liderança após a terceira passagem. Manteve-se na ponta até a 26a volta.

Na metade da corrida, Rubinho só tinha Hakkinen e Schumacher à frente de si. Mas a Stewart de tantas quebras nos dois anos anteriores, manteve a escrita e o deixou a pé, após 42 voltas - mais precisamente seu motor, Ford Cosworth, estourou a meio do caminho.

Sunday, October 25, 2009

A audiência caiu


Se gundo o Ibope, o GP do Brasil deste ano sofreu uma considerável queda de audiência na Grande São Paulo em relação a 2008: registrou 26 pontos, contra 33 do ano anterior.

É um resultado justificável, em parte, pelas dramáticas condições da prova do ano passado, na qual Felipe Massa possuía chances de sagrar-se campeão mundial, cuja decisão em favor de Lewis Hamilton se deu na última curva.

No entanto, neste ano o Brasil também tinha um piloto com chances de, se não conquistar o título, ao menos postergar sua decisão e manter suas chances matemáticas. Tais chances se tornaram ainda mais palpáveis após os resultados de uma confusa sessão de classificação. Quanto se tornou clara a frustração da possibilidade de vitória brasileira, é provável que o número de televisores ligados na corrida tenha desabado.

Do lugar onde eu estava posicionado, pude ver arquibancadas lotadas em todos os setores, frustrando minha própria expectativa (poucas semanas antes do evento, alguns ingressos 'surgiram' inexplicavelmente na bilheteria). As notáveis exceções eram os hospitality centers do centro da pista e, principalmente, a arquibancada corporativa do São Paulo Futebol Clube, praticamente às moscas.

Nos últimos ano0s, parece ter havido certo esforço da opinião pública especializada em automobilismo (e principalmente de alguns nomes da "intelligentsia") de retirar as corridas da esfera nacionalista e trazê-la para a esfera do esporte - os dois universos, aliás, prfundamente interligado desde seus primórdios. A medição do Ibope, porém, nos mostra que os brasileiros ainda enxergam a Fórmula 1 como uma arena para se pôr à prova nosso orgulho nacional.

Será que este tipo de comportamento é comum em outros países? Ou seria um traço particular de uma nação específica?

Saturday, October 17, 2009

GP do Brasil 2009 (sábado) - Fragmentos do Setor A

Estive hoje (e estarei amanhã) no Setor A de Interlagos acompanhando in loco o GP do Brasil. Como torcedor, não como blogueiro ou jornalista. Espero trazer um pouco das experiências de lá retiradas para quem não pôde vivê-las por si próprio.

Em primeiro lugar, a umidade. Tudo do meu joelho para baixo esteve irreversivelmente molhado desde as 11h00 da manhã até às 18h00. Alimentei-me mal (dois "beirutes" horríveis) e tive o azar de comprar uma capa de chuva na porta do autódromo desenhada para pessoas sem braços (!).

As queimaduras. Quem acompanhou os treinos pela tv sabe o quanto choveu e o quanto esteve frio nas dependências do autódromo. No entanto, saí de Interlagos com levíssima febre e com o rosto vermelho. Como não é minha primeira vez no autódromo, sabia que era necessário passar protetor solar em qualquer oportunidade. Foi o quer fiz. Só não o repassei porque a chuva intensa não me permitiu. O resultado está estampado em minha cara.

Histórias. Sempre volto de um GP Brasil cheio delas. Ouvi sobre como no GP Brasil de 1990 a torcida estava tão eufórica antes da largada que Ron Dennis pediu à arquibancada inteira que fizesse silêncio para que Senna pudesse se concentrar. Ou sobre o barulho inconfundível que a Coloni de Roberto Moreno fazia ao passar pela Rascasse no GP de Mônaco de 1989.

Personagens. Ontem, pelo que me contara, um grupo de torcedores estendeu uma faixa pedindo a Lewis Hamilton que lhes cedessem ingressos para o domingo. Ela tinha até um número de telefone celular.

Quem anda pelas dependências do autódromo não deve estranhar ouvir a língua espanhola sendo falada esporadicamente. Há muitos estrangeiros hispânicos, de muios países. No meu caso, meu grupo se juntou a um outro de argentinos. Extremamente simpáticos. Chego a pensar se a rivalidade Brasil x Argentina não é em parte ou totalmente um mero fenômeno midiático.

O resto vocês viram pela tv. Melhor dom que eu, sequinhos, em suas tvs.

Sunday, January 25, 2009

Grande Prêmio do Brasil de 1975



Num dia 26 de janeiro como amanhã, em 1975, José Carlos Pace vencia o GP do Brasil de Fórmula 1. Não é lá uma efeméride dessas de números redondos, mas é sempre bom lembrar. O vídeo acima é uma pequena reedição da transmissão original, que não foi feita com grandes preocupações narrativas, mas parece relativamente fiel ao zeitgeist.

Quem se interessar por uma definição melhor e detalhes dos bastidores (como, por exemplo, Depailler de calção limpando seu capacete), deve preferir este vídeo aqui. O que faz dele um registro medíocre, porém, é que a imensa maioria das cenas mostradas foi filmada em um pequeno trecho do circuito. Oito quilômetros e eles insistem em mostrar apenas o Laranja e o Esse.

De qualquer forma, há algo interessante a prestar atenção: no fim do vídeo, a câmera, em plano-sequência, mostra vários carros fazendo a primeira perna do Esse. Pace faz a curva bem aberta. Já os outros a contornam mais por dentro, exceto Fittipaldi e seu companheiro na McLaren, Jochen Mass, que preferem deixar a traseira escorregar bastante. Um discreto testemunho de uma Fórmula 1 menos enrijecida, da época em que pilotos ainda tinham personalidade.

Friday, November 14, 2008

Instantâneos do GP Brasil - um ensaio e(m) imagens

Em época recente, a fotografia tornou-se um passatempo quase tão difundido quanto o sexo e a dança – o que significa que, como toda forma de arte de massa, a fotografia não é praticada pela maioria das pessoas como uma arte.

[...] Assim como as fotos dão às pessoas a posse imaginária de um passado irreal, também ajudam a tomar posse de um espaço em que se acham inseguras. Assim, a fotografia desenvolve-se na esteira de uma das atividades modernas mais típicas: o turismo. Pela primeira vez na história, pessoas viajam regularmente, em grande número, para fora de seu ambiente habitual, durante breves períodos. Parece decididamente anormal viajar por prazer sem levar uma câmera. As fotos oferecerão provas incontestáveis de que a viagem se realizou, de que a programação foi cumprida, de que houve diversão. As fotos documentam seqüências de consumo realizadas longe dos olhos da família, dos amigos, dos vizinhos.


[...] Um modo de atestar a experiência, tirar fotos é também uma forma de recusá-la – ao limitar a experiência a uma busca do fotogênico, ao converter a experiência em uma imagem, um suvenir. Viajar se torna uma estratégia de acumular fotos. A própria atividade de tirar fotos é tranqüilizante e mitiga sentimentos gerais de desorientação que podem ser exacerbados pela viagem. Os turistas, em sua maioria, sentem-se compelidos a pôr a câmera entre si mesmos e tudo de notável que encontram. Inseguros sobre suas reações, tiram uma foto. Isso dá forma à experiência: pare, tire uma foto e vá em frente. O método atrai especialmente pessoas submetidas a uma ética cruel de trabalho – alemães, japoneses e americanos. Usar uma câmera atenua a angústia que pessoas submetidas ao imperativo do trabalho sentem por não trabalhar enquanto estão de férias, ocasião em que deveriam divertir-se. Elas têm algo a fazer que é uma imitação amigável do trabalho: podem tirar fotos.

[...] A fotografia tornou-se um dos principais expedientes para experimentar alguma coisa, para dar uma aparência de participação [...] Tirar fotos estabeleceu uma relação voyeurística crônica com o mundo, que nivela o significado de todos os acontecimentos.


Uma foto não é apenas o resultado de um encontro entre um evento e um fotógrafo; tirar fotos é um evento em si mesmo, e dotado dos direitos mais categóricos – interferir, invadir ou ignorar, não importa o que estiver acontecendo. Nosso próprio senso de situação articula-se, agora, pelas intervenções da câmera. A onipresença de câmeras sugere, de forma persuasiva, que o tempo consiste em eventos interessantes, eventos dignos de ser fotografados. Isso, em troca, torna fácil sentir que qualquer evento, uma vez em curso, e qualquer que seja seu caráter moral, deve ter caminho livre para prosseguir até se completar – de modo que outra coisa possa vir ao mundo: a foto. Após o fim do evento, a foto ainda existe, conferindo ao evento uma espécie de imortalidade (e de importância) que de outro modo ele jamais desfrutaria. Enquanto pessoas reais estão no mundo real matando a si mesmas ou matando outras pessoas reais, o fotógrafo se põe atrás de sua câmera, criando um pequeno elemento de outro mundo: o mundo-imagem, que promete sobreviver a todos nós.
Grifos meus.
SONTAG, Susan. Na caverna de Platão. In: Ensaios sobre a fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp. 18-23.

Wednesday, November 12, 2008

Instantâneos do GP Brasil

Heidfeld in the Sky with Diamonds



Landscape


Rubinho é metal



Instantâneos do GP Brasil

Arquibancadas ainda vazias na sexta, enquanto Timo Glock passa sem chamar muita atenção para si - ninguém poderia supor qual papel sobraria para ele na última curva da última volta...

Tuesday, November 11, 2008

Instantâneos do GP Brasil



A partir de hoje, publico o que de mais interessante consegui clicar (muito mal) durante os três dias de GP. A foto de cima foi tirada na sexta-feira. Com as arquibancadas vazias, os policiais não tiveram muito trabalho durante o dia.
Se fui muito infeliz em acertar o foco, ao menos não enquadrei o rosto do policial, que não estava fazendo nada demais. Aliás, estes, normalmente sisudos e indiferentes, este ano desenvolveram súbito interesse pela Fórmula 1...

Saturday, November 8, 2008

1981 – GP do Brasil


29/03, Jacarepaguá. Segunda etapa.

Do “L’Année Automobile 1981/1982”
Texto original: Eric Bhat

Disputado no autódromo de Jacarepaguá, no Rio, relegado ao ostracismo há três anos em favor de Interlagos, o GP do Brasil foi o palco de um novo triunfo da Williams, que assinalou sua quarta dobradinha consecutiva: uma série sem precedentes na história da Fórmula 1.

Carlos Reutemann completou a corrida na liderança, de ponta a ponta, em uma pista constantemente molhada. O argentino não cometeu o erro que lhe custara a vitória em Long Beach, duas semanas antes, jamais deixando Jones, que o seguia como sua sombra, partir para um ataque decisivo.

Ocorre que o piloto australiano, que teoricamente possui por contrato o direito de receber a liderança de seu companheiro de equipe, aguardava pacientemente o momento da troca de posições, evitando assim um combate potencialmente fatal para ambos os carros. A poucas voltas do fim, Frank Williams, por meio de placas, envia a Reutemann a ordem de ceder passagem a Jones. Carlos ignora... Por este fato, o campeão mundial de 1980 adquiriu um certo rancor que fez questão de manifestar após a corrida.

A dobradinha das Williams provocou uma certa surpresa, já que a vitória parecia prometida à Brabham de Nelson Piquet. Equipada com um sistema de suspensão óleo-pneumática que possibilitava a exploração do efeito-solo, o monoposto inglês foi de longe o mais rápido nos treinos. Os caprichos dos céus trataram de contrariar a lógica dos acontecimentos: acreditando que o tempo abrira em breve, Piquet cometeu o erro de partir na largada com pneus slick. Infelizmente para ele, a pista não secou em momento algum, fazendo-o afundar na classificação.

A chuva foi, por outro lado, a aliada do suíço Marc Surer, alinhado na nona fila do grid, que levou sua modesta Ensign ao quarto lugar, logo atrás de Patrese, que confirmou o progresso da Arrows A3.

Vencedor: Reutemann, Williams. 62 voltas (de 5,031km, num total de 311,922km) em 2h00min23s66, com média de 155,450km/h.

Melhor volta: Surer, Ensign (1min54s30).

Pole: Piquet, Brabham (1min35s07).

Tempo: Chuva, pista molhada.

Público: 25 mil espectadores.

Monday, November 3, 2008

GP Brasil 2008 – Os 30 segundos que abalaram Interlagos


Meu domingo começou às 21h00 de sábado, quando acordei de um sono de duas horas. Por um momento, hesitei em acordar, já que esta seria minha terceira noite mal dormida consecutiva e o dia prometia ser mais infernal e mais estressante do que qualquer outro. Mas levantei.

Não recebi autorização dos meus amigos para divulgar os horários de chegada na fila que determinaram um lugar excepcional, visão privilegiada e sombra durante o dia. Posso relatar, entretanto, que foi uma das noites na fila mais agradáveis que já peguei: tempo ameno, bons companheiros para jogar conversa fora, relativo conforto. Muitos dormiram ou cochilaram, algo que o nervosismo me impediu de fazer exceto entre 4h40 e 5h10, hora em que as cadeiras foram recolhidas, todos levantaram acampamento, desmontaram churrasqueiras e aquilo virou uma fila de verdade.

Às 6h30, os portões foram abertos e lá estavam nossas cadeiras cativas. As oito horas seguintes foram de expectativa e espera. E, ao contrário do que imaginava, ir ao banheiro e comprar comida foram procedimentos muito menos estressantes do que no dia anterior. Sempre havia um odioso beirute, ainda que velho, me esperando numa barraquinha e um banheiro químico em condições quase humanas para utilizar quando necessário. Em compensação, não vi a bandeira quadriculada em nenhum dos eventos de apoio.

É claro que, durante uma espera tão longa num ambiente tão confortável quanto uma masmorra medieval, conversar é um modo de evitar a insanidade. Falou-se muito de Grandes Prêmios passados, mulheres, rufiões e rufianismo (previsto no Código Penal).

Mas a diversão foi garantida por um argentino que conhecemos sábado, e que acolhemos no domingo, cedendo a ele e a seu grupo uma parte de nosso pequeno camarote disputado a tapa.

Ignacio, portenho, nos falou sobre a máfia, o Boca Juniors, o Estudiantes de La Plata, além de nos brindar com uma inspirada performance etílica de ‘O Sole Mio’. Ah, sim: Ignacio, de longe, foi o maior torcedor do Felipe Massa do fim de semana, fazendo inveja ao mais fervoroso brasileiro.

Motores ligados
Claro, desnecessário descrever tudo aquilo que a tv mostrou e que o público em casa viu tão bem com seus respectivos traseiros tão bem instalados nas poltronas.

Na arquibancada, a enorme tempestade que se formava atrás da Curva do Sol e a nuvem negra sobre o setor A foram recebidas com euforia. Alguns poucos preferiam tempo seco, confiantes na mais que comprovada capacidade de Lewis Hamilton se ferrar por seus próprios meios.

Foi uma largada emocionante, as primeiras voltas após o Safety Car reverberavam nas retinas dos setenta mil espectadores enquanto estas percorriam aqueles quatro mil metros de pista. Ao longo da prova, as emoções se dissipavam e alguém teve a brilhante idéia de sentar.

Desde sexta-feira até aquele momento, passando pelos eventos de apoio, não assisti a um treino sequer sentado. Nos três dias anteriores somados, pode-se dizer que acumulei seis horas de sono. A muito contragosto, por respeito aos meus colegas, sentei. Até agora não sei como resisti à tentação de dormir.

Eventualmente, levantava, me alongava para aumentar o ritmo cardíaco, e voltava a sentar. Em resumo, uma corrida chata, apesar das belas atuações de Massa, Vettel e Alonso.

Foi então que outras nuvens chegaram ao autódromo e a arquibancada levantou novamente, sacudindo as capas de chuva como se isso ajudasse a água a cair mais rápido. Quando enfim ela caiu, o nervosismo venceu. Ninguém soltou uma palavra. Cheguei a pensar que Hamilton havia colocado pneus para tempo seco em seu carro, tamanha a queda de rendimento.

Na ultrapassagem de Vettel, comemoramos como nunca antes havia feito, mas alguma voz mais sensata enunciou: “espera”. A chuva aumentava e ninguém conseguia acreditar que estava vendo um campeão mundial brasileiro surgir no Brasil. Quando Massa passou na linha de chegada, explodimos: gritando, vibrando, atiramos nossas capas de chuva ao alto, nos abraçamos, não sabíamos o que fazer. Foram os trinta segundos em que nos sagramos campeões.

De volta ao mundo real
Até que alguém falou que não. E o silêncio cobriu a arquibancada. Ninguém entendeu nada, e, quando entendeu, havia a certeza de que Glock deixara Hamilton passar de propósito.

Não houve pódio, houve velório. Não fossem os pneus de Glock (já inocentado), lá estariam os três últimos campeões mundiais. A chuva virou uma tempestade e lá sobrávamos, poucos, que relutavam em assistir à coletiva de imprensa, pelo telão, como se isso fosse mudar alguma coisa, talvez.

Se Hamilton mereceu o título, não o fez em Interlagos. Nervoso, apavorado, inconsistente, foi certamente a pior corrida do inglês na Fórmula 1 até o momento. Mas ele estava coroado e não tínhamos outra escolha que não aceitar.

O banho de realidade e de chuva lavou nosso espírito. Nem um pouco conformados, restou a certeza de que foi um fim de semana histórico, inesquecível, e de que estaremos lá de novo no ano que vem. E, se loucura a dois não é loucura, a cinqüenta mil também não há de ser: fomos os únicos a ver um brasileiro ser campeão no Brasil. Ainda que por trinta segundos, mas como diz Machado, “só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve”.

Saturday, November 1, 2008

GP Brasil 2008 – Sábado - Cultura de Massa

Dia estressante hoje, na parte da manhã. A Confusa Engenharia de Tráfego (CET) tratou de complicar a circulação, o que me rendeu um agradável passeio pelo bairro de Interlagos antes do sol nascer. Os lugares para o público se estreitaram com a quantidade absurda de torcedores que compareceu, relativa a outros sábados.

Almoçar foi um inferno, há penitenciárias com refeições mais saudáveis e bem servidas do que nas lanchonetes onipresentes e ineficientes do setor A. Por fim, a preocupação em garantir um bom lugar amanhã. Estamos prevendo que a fila de entrada será apenas comparável com aquela do ano 2000, quando Barrichello estreou na Ferrari.

Agora, ao fim do dia, a maioria das preocupações se dissipou. O que resta são as memórias daquilo que aconteceu em pista. E este que vos escreve, tão ferrenho defensor de Lewis Hamilton, se viu de repente torcendo fervorosamente para Felipe Massa. Não há outra opção, a arquibancada é um organismo dotado de vontade própria e os indivíduos nela são apenas uma fração irracional.

O desempenho dos pilotos, o grid de largada completo, quem assiste pela tv tem muito mais informações do que quem estava rachando no sol de Interlagos. Em compensação, televisão não transmite cheiro (a Fórmula 1 tem aroma, acreditem ou não), tem o som limitado, uma latitude de cores menor... Toma cerveja gelada, mas não se diverte tanto.

Estar ao vivo numa corrida é entrar em contato com parte do automobilismo clássico, quando uma corrida não servia para vender cigarros, mas sim para o homem explorar os limites da técnica; e sentar à beira da estrada para ver carros passarem era desenvolver uma relação de risco com o piloto e com a tecnologia.

Essa relação ainda existe hoje, embora lavada pela esterilização e comodidade oferecidas pela cultura de massa. Cultura de Massa?

Friday, October 31, 2008

GP do Brasil 2008 – Sexta-feira, cemitérios indígenas e outras teorias


Certamente já assisti a mais de dez treinos da Fórmula 1 em Interlagos, estes de hoje foram até que triviais demais. Mas cada vez que volto de lá reforço a convicção de que, muito antes de ser um autódromo, Interlagos foi um cemitério indígena. Ou um campo de pouso para naves extraterrestres.

Alguns indícios levam a crer que Interlagos possui uma lógica própria. Exemplo: choveu o dia inteiro. Repito, choveu o dia inteiro, desde as seis da manhã até as quatro da tarde, não havendo mais de meia hora sem finíssimos pingos caindo sobre o circuito. Isso sem falar no frio e no vento que fariam inveja a qualquer aeroporto militar de Northamptonshire (Silverstone inclusive). Por isso mesmo, não passei filtro solar. Estou ligeiramente rosa.

Os testemunhas de Jeová atacaram novamente. Desta vez, estão vendendo iogurte. Conheço muita gente que vai ao autódromo, mas ninguém que vai para beber iogurte... A marca do produto suscitou boas cantadas para as vendedoras: “Nossa, que vigor!”

De qualquer forma, toda iniciativa em prol das vísceras da torcida é bem-vinda, já que mesmo na sexta-feira de manhã os banheiros químicos já estavam fedorentos (há um banheiro de verdade na arquibancada A, vale dizer, mas que ‘serve’ apenas para o número um).

Parênteses: pelas palavras de um amigo meu, “quando a Fórmula 1 voltou para Interlagos, ficamos espantados porque havia banheiros. No Rio de Janeiro, tínhamos de urinar (óbvio que ninguém fala ‘urinar’, mas tive que substituir alguns termos por outros mais vitorianos) em sacos de lixo ou de pão de forma, já que era impossível descer das arquibancadas e voltar para o mesmo lugar”. Onde estes sacos iam parar depois de cheios? Via de regra, na cabeça de algum(a) sujeito(a) sentado nos lugares mais baixos.

Por falar em arquibancada A (e para ser um pouco bairrista), era a única do circuito que estava mais ou menos cheia. Até mesmo o setor G estava vazio. Desnecessário dizer que as tribunas corporativas estavam às moscas.

Entre os torcedores, o assunto do momento foi a pintura do carro de Coulthard – que, ao vivo, é mais acinzentada. No primeiro treino, alguns amigos comentaram: “Muito interessante”.

No segundo treino, um deles se corrigiu: “É feia pra caramba (ninguém fala ‘caramba’, mas tive que substituir alguns termos por outros mais vitorianos) essa pintura do Coulthard!” E arrematou: “Parece um ônibus clandestino...”

E não é que parece mesmo?

Tuesday, October 28, 2008

Dicas para quem vai a Interlagos


Pode ser pretensão alguém que se prepara para ir para seu quinto GP do Brasil (o quarto, se a contagem for do fim de semana completo) alardear conselhos por aí para quem vai ao autódromo. Concordo. Por isso, sistematizei algumas dicas com base também em especiais que vez por outra saem nos jornais, além de observar amigos e as minhas próprias reações fisiológicas, por vezes desagradáveis.

A lista a seguir pode parecer um exagero para quem tem assento reservado em uma arquibancada corporativa ou até mesmo em setores menores, cobertos e caros, como o D e o M, ou para quem vai apenas no domingo. Aí vão as dicas:

- Use filtro Solar. Não, não é por causa do Pedro Bial. Que chova em Interlagos, que você fique na sombra o dia inteiro. O mínimo raio de sol vai lhe fazer um estrago enorme. Por causa de uma sexta-feira cinzenta sem filtro solar, muitos torcedores de longa data já ganharam o apelido de ‘Ferrari’ pelo resto do fim de semana.

- Leve uma capa de chuva. Nunca, jamais confie em previsões metereológicas. E esteja sempre preparado para um dilúvio. Boné e óculos escuros, óbvio, também são obrigatórios.

- Apesar de tudo, não leve muita bagagem para o autódromo. Muitos acessórios, como binóculos, por exemplo, são absolutamente dispensáveis, e uma mochila pesada cheia de quinquilharias sendo carregada por três dias a fio é pedir para sua coluna travar cinco minutos antes da largada.


- Alimente-se bem durante a semana. O torcedor médio se alimenta mais ou menos como um mendigo durante o fim de semana. Suas opções de almoço serão, basicamente, cachorro quente e mini pizza. Prefira alimentos leves e ricos em fibras ao longo da semana. É melhor do que precisar de um banheiro químico no domingo, no meio da volta de apresentação.

- Faça exercícios leves alguns dias antes. Alongamentos simples podem amenizar as dores que seu pescoço, coluna e, principalmente, seu traseiro vão sofrer devido à prancha de madeira ou a faixa de concreto onde você vai ficar sentado horas a fio durante três dias. Caso não se importe com piadas sobre hemorróidas, vale trazer ou comprar uma almofada.

- Leve na esportiva as cantadas que sua mulher/namorada vai levar, se ela comparecer ao autódromo. Mas dessa você já sabia, né sócio...?

- Os xiitas ficam do lado de fora. Os mais fervorosos piquetistas, sennistas, ferraristas podem ficar espantados, mas nunca há brigas ou discussões sobre tais preferências nas arquibancadas. Não perca seu tempo fazendo inimizades. Você irá conversar horas e horas sobre automobilismo, e talvez aprenda bastante. Desconfie de datas, principalmente se seu interlocutor já tomou algumas.

- É uma extrema falta de educação dar em cima de modelos ou vendedoras dos stands sem estar completamente alcoolizado. Alcoolize-se. E tome cuidado com a Lei Seca.