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Este foi o dia em que você devia ter estado lá. Você teria visto pilotos de projeção internacional, três deles campeões mundiais, em carros de 2,5 litros (a Fórmula 1, na época, era limitada a 1,5 litros). Teria visto Frank Matich marcar a pole, teria visto Denny Hulme imóvel na primeira fila, quando foi dada a largada e, se não tivesse fechado os olhos para se poupar do strike iminente, teria visto que todos os 17 carros passaram sem contratempos pelo neozelandês. Ainda bem: tivesse alguém batido, e quem sabe o campeão mundial de 1967 fosse outro.
Na frente, Brabham reinava sozinho. Os dois Cooper da equipe Bruce McLaren Racing, Timmy Mayer (irmão mais novo do Teddy. Sim, esse mundo é pequeno) e o próprio, se abalroaram na primeira volta mas nada lhes aconteceu. Matich era o segundo e Graham Hill o terceiro.
Matich assumiu a liderança na terceira de 45 voltas, mas ao sexto giro a suspensão, literalmente, o tirou da pista. Brabham passou a controlar friamente a liderança e a prova permaneceu em velocidade de cruzeiro até os carros atingirem a metade da distância total.
Foi quando McLaren e Mayer, sempre nessa ordem, se livraram de Hill e passaram a descontar a diferença em relação ao líder. Hulme, que não havia abandonado, não perdera apenas as chances de vitória com seu problema na largada: perdeu também o bom senso, e corria para alcançar um honrável quinto lugar ao final.
A esta altura, McLaren estabelecia a melhor volta da prova (1m37s4) e passava a incomodar Brabham, que por sua vez teve de mostrar por que seu apelido era Old Jack. Ambos fizeram a última volta colados, para receberem a bandeirada a 4 décimos de diferença.
Você devia ter estado em Warwick Farm aquele dia. Teria notado que Brabham, apesar de perseguido, jamais perdeu o controle da corrida. Por outro lado, alguém talvez lhe teria confidenciado que os Brabham eram muito mais dóceis para guiar do que os Cooper, o que prova que Bruce também estava entre os grandes.
Para quem quiser mais detalhes da Tasman Series 2,5L, ou melhor, todos os detalhes, basta entrar neste link. Mais histórias da categoria aparecerão nos próximos dias!
No ano e 1965, o experiente piloto e jovem construtor Jack Brabham assinava uma coluna mensal da revista Motor Racing. A seguir, seu relato do GP da França daquele ano, o primeiro da Fórmula 1 em Charade. Tradução livre.
Grande Prêmio da França – 27 de junho de 1965
Nós tínhamos de preparar os carros de Fórmula 1 para Clermont-Ferrand, e ainda deixar os carros de Fórmula 2 preparados para a corrida de Reims, no fim de semana seguinte.
De novo, pedimos três inscrições, mas os organizadores do GP da França nos deram apenas duas. Dessa forma, como havíamos prometido a Denny Hulme algumas corridas na F1 este ano, e também porque Denny tinha vencido a corrida de F2 em Clermont ano passado, achamos que seria uma boa oportunidade para lhe inscrever.
O motor de quatro válvulas foi consertado a tempo do GP, para ser colocado no carro do Dan [Gurney]. Eu não conhecia nada do circuito, e de fato não tinha sequer dado uma volta ao redor dele antes da prova. A experiência prévia de Denny na pista foi, naturalmente, de grande ajuda enquanto preparávamos os carros, particularmente a respeito do acerto da suspensão. Tínhamos feito um belo trecho em testes com o carro do Denny antes de ir a Clermont, e o carro estava 100% acertado, com os amortecedores e molas corretos o bastante. Por isso mesmo Denny pôde pisar fundo e surpreender a todos com o melhor tempo no primeiro dia de treinos. Essa pista demanda aprendizagem, embora os melhores pilotos não demorem muito a pegar o jeito de um traçado novo, mas a experiência prévia de Denny lhe deu um salto à frente dos outros, num primeiro momento.
É uma pista para pilotos de verdade. Minha única crítica é quanto à posição dos pits, que não é boa. Era um belo problema ter de percorrer a estrada por uns 400 metros para chegar ao posto de reabastecimento, e após encher os tanques não era possível voltar aos pits sem percorrer todo o circuito. A área devotada ao paddock é muito rústica e pequena. Após a corrida eu perguntei aos organizadores por que eles não colocaram os pits no lugar do posto de reabastecimento, onde há muito mais espaço, mas aparentemente é impossível colocar os espectadores no lado oposto da pista naquele local. O comprimento do pit lane é insuficiente, pois quando todos os carros estavam fora dos boxes durante os treinos, frequentemente não havia espaço para algum deles. O resultado foi carros estacionados em fila dupla enquanto comissários corriam e gritavam, mas não havia nada a ser feito quanto a isso.
Foi a primeira vez que atuei como chefe de equipe em um Grand Prix, e gostei bastante disso. É estranho, porém, estar preso aos pits se preocupando com os pilotos lá fora, na pista.
A grande preocupação durante a corrida foi quando Dan teve problemas e entrou no box para trocar um plug. Em seguida, ele voltou à prova e começou a virar extremamente rápido, ao mesmo tempo em que alguns pingos de chuva começaram a cair. Então, de repente, o Dan não apareceu, e passei alguns minutos tenso, pensando se ele tinha quebrado ou saído da pista. Fiquei muito aliviado em ouvir que o motor havia estourado, embora não estivesse muito feliz pelo motor estourado. Ele era muito caro, mas ao menos meu espírito ficou tranquilo.
Durante a segunda sessão de treinos Dan ainda não estava satisfeito com seu motor de quatro válvulas. Não conseguimos fazer o sistema de injeção funcionar adequadamente. E após os treinos tivemos um vazamento de gasolina da parte interna da bomba de injeção que começou a pegar fogo na garagem, e não tivemos tempo de reparar isso. Queimou todos os bicos injetores, e nós achamos por bem trocar o motor. Então, para a corrida, Denny usou o motor com o qual corri em Spa; este tendo percorrido muitas milhas em corrida e sem ter sido examinado entre as duas provas. Dan usou o motor que eu havia estourado nos treinos em Spa, que voltara após ser restaurado pela Climax.
Na corrida, um plug se soltou no motor de Dan e outro teve de ser trocado. Ele veio aos pits em seis cilindros. O motor fazia um som muito feio, e para fazer uma volta em 3m26s nessas circunstâncias, ele deve ter sido muito forçado.
Acho que Denny fez uma corrida extremamente boa. Ele foi alvejado de forma muito ruim na largada. Me disseram que Bandini foi muito agressivo no cair da bandeira, e se atirou pra cima de alguns rivais, mas não prestei atenção nisso por estar atento aos nossos carros. Isso mostra o quão focado você fica quando é um chefe de equipe!
Por ter sido alvejado, Denny passou após a primeira volta em décimo quarto, mas começou a galgar posições continuamente até ser o quarto colocado, posição que manteve até o fim.
O motor do Denny soava muito bem toda vez que passava pelos boxes, e esta era uma unidade na qual eu tinha muita confiança. Descobrimos que estes motores, quando fazem uma corrida, geralmente farão uma segunda. Se eles dão trabalho, o fazem bem cedo. Não fiquei muito surpreso ao ver após a corrida que a pressão do óleo caiu um pouco perto do fim. Mas esta queda só começou na última volta, e acredito que ele poderia ter corrido muito mais. Foi apenas consequência de haver trepidação nos tanques, e em um circuito como Clermont isso acontece muito facilmente.
Um dia interessante, mas não acho que eu queira ser um chefe de equipe. Em breve, estarei pilotando novamente.
Nota: Este blog volta a ser atualizado no fim de semana. Até!