Foi no dia 6 de dezembro daquele ano. A princípio marcado para o Golden Gate Park, um jogo de futebol americano o deslocou para o Sears Point Raceway. Mas uma desavença contratual com os donos do autódromo na época levaram o evento ao Altamont Raceway, de propriedade de um empresário local, Dick Carter - a troca aconteceu apenas dois dias antes do show.
O restante do festival resultou em uma sucessão de infortúnios. O palco, que em Sears Point se localizaria em cima da colina, ficou então no mesmo plano do público. O Hells Angels foram chamados para complementar a segurança, para que ninguém subisse no palco ou destruísse os equipamentos - e pagos com cerveja. Altamont era chamado, então, de "Woodstock do Oeste", com o objetivo de reeditar o grande marco da contracultura, que ocorrera menos de três meses antes.
Assim, 300 mil pessoas se deslocaram para o show de nomes como Jefferson Airplane, Santana, Crosby, Stills & Nash, Grateful Dead e que se encerraria com os Stones - sem cobrança de ingressos.
Woodstock não foi exatamente aquilo que o mito propagou depois, mas nada passou mais longe do lema "paz e amor" do que Altamont. A falta de estrutura, a superlotação e o uso ostensivo de drogas fez com que logo surgissem brigas. Membros do Hells Angels também agiam com violência, distirbuindo socos até ao vocalista do Jefferson Airplane em pleno palco. O Grateful Dead se recusou a se apresentar. O dano a algumas motos do grupo desencadeou uma pancadaria generalizada. Quando os Stones entraram, à noite, ainda havia mais para acontecer: o jovem Meredith Hunter, sob o efeito de drogas, apontou uma arma para o palco, sendo detido a facadas que o mataram no local.
Altamont selou amargamente a esperança de que sexo, drogas e rock 'n roll eram uma alternativa viável para substituir o desgastado e belicoso "american dream".
Isso nos leva à curiosa coincidência do desastroso festival de Altamont ser realizado num autódromo. Autódromos são os lugares dos carros e das corridas, duas palavras que reverberam profundamente no "american dream".
Em primeiro lugar, porque o processo de ocupação do Oeste estadunidense recebeu a oportuna alcunha de "Corrida para o Oeste". Um notável professor de arquitetura, Vincent Scully Jr, propõe uma explicação mais completa: "É evidente que o europeu na América nunca se sentiu fixado no continente. Ele tinha deixado o jardim fechado da paisagem europeia e o seu novo ambiente natural era maior, mais hostil e, acima de tudo, menos confiável do que tudo que conhecera até então. O americano foi, portanto, o primeiro europeu a experimentar o fluxo contínuo dos tempos modernos".
Segundo Scully, isso criou um país fascinado pela metáfora da "estrada aberta". E de tanto ir a Oeste, acabaram chegando na Califórnia.
Em termos de automobilismo, a Califórnia talvez seja um desvio da regra norte-americana, pois, historicamente, os circuitos mistos sempre tiveram mais espaço. Lá fica Laguna Seca e ficava Riverside, por exemplo, e mesmo o Ontario Motor Speedway foi criado com uma seção 'infield'. Uma das provas mais marcantes da Fórmula 5000 dos EUA, não à toa, foi em Long Beach, traçado de rua. Apenas nos anos 90 foi erguido o superoval de Fontana.
Altamont Raceway é um pequeno oval de 1/2 milha (0,8 km) criado em 1966 - o único oval asfaltado existente na sua região, denominada Bay Area. Aliás, nem ele existe mais: foi fechado em outubro do ano passado pela sexta vez em 43 anos, mas agora definitivamente.
Os pilotos locais gostavam de correr lá, pelo asfalto liso e ângulo das curvas, que proporcionavam velocidades elevadas. Fora isso nada nunca pareceu conspirar a favor da localidade. Ele foi fincado no meio de um corredor de vento homônimo que congela os termômetros toda noite. Foi comprado e vendido diversas vezes e ninguém jamais conseguiu fazer a pista se sustentar financeiramente. Trânsito, falta de energia, incêndios, água sulfurosa, tudo contribuiu para prejuízos constantes.
O norte californiano, onde se encontra, é uma das regiões em que a Nascar, em suas versões nacional e regionais, tem mais dificuladade para se estabelecer.
Após o trágico festival, Altamont deixou de receber corridas por três anos. Talvez, neste lugarzinho desconhecido, tenham morrido dois tipos de liberdade que o automobilismo um dia também encarnou: a liberdade da "estrada aberta", que encontrou seu fim geográfico; e a liberdade total do corpo e da expressão pregada pelos hippies, que culminou na negação do "paz e amor".
Segundo Scully, isso criou um país fascinado pela metáfora da "estrada aberta". E de tanto ir a Oeste, acabaram chegando na Califórnia.
Em termos de automobilismo, a Califórnia talvez seja um desvio da regra norte-americana, pois, historicamente, os circuitos mistos sempre tiveram mais espaço. Lá fica Laguna Seca e ficava Riverside, por exemplo, e mesmo o Ontario Motor Speedway foi criado com uma seção 'infield'. Uma das provas mais marcantes da Fórmula 5000 dos EUA, não à toa, foi em Long Beach, traçado de rua. Apenas nos anos 90 foi erguido o superoval de Fontana.
Altamont Raceway é um pequeno oval de 1/2 milha (0,8 km) criado em 1966 - o único oval asfaltado existente na sua região, denominada Bay Area. Aliás, nem ele existe mais: foi fechado em outubro do ano passado pela sexta vez em 43 anos, mas agora definitivamente.
Os pilotos locais gostavam de correr lá, pelo asfalto liso e ângulo das curvas, que proporcionavam velocidades elevadas. Fora isso nada nunca pareceu conspirar a favor da localidade. Ele foi fincado no meio de um corredor de vento homônimo que congela os termômetros toda noite. Foi comprado e vendido diversas vezes e ninguém jamais conseguiu fazer a pista se sustentar financeiramente. Trânsito, falta de energia, incêndios, água sulfurosa, tudo contribuiu para prejuízos constantes.
O norte californiano, onde se encontra, é uma das regiões em que a Nascar, em suas versões nacional e regionais, tem mais dificuladade para se estabelecer.
Após o trágico festival, Altamont deixou de receber corridas por três anos. Talvez, neste lugarzinho desconhecido, tenham morrido dois tipos de liberdade que o automobilismo um dia também encarnou: a liberdade da "estrada aberta", que encontrou seu fim geográfico; e a liberdade total do corpo e da expressão pregada pelos hippies, que culminou na negação do "paz e amor".
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