Friday, April 23, 2010

McLaren dá mais uma chance a Magnussen (contratando seu filho)

No mês passado, a mídia deu relativa atenção a um fato aparentemente trivial: a incorporação de Kevin Magnussen, 17 anos, ao seu programa de desenvolvimento de pilotos. Nada demais, não fosse ele filho de Jan Magnussen, também ex-McLaren, e protagonista de uma das histórias mais insólitas do automobilismo dos anos 90.

GP DO PACÍFICO DE 1995, AIDA (foto). Um jovem, muito jovem dinamarquês se prepara para substituir Mika Hakkinen, doente, na McLaren. É a sua primeira corrida. Ninguém esperaria muito, não fosse ele Jan Magnussen, campeão da Fórmula 3 britânica do ano anterior, com um recorde de 13 vitórias em 18 provas. No GP de Macau, ganhou 13 posições na primeira bateria e venceu a segunda. Anteriormente, havia vencido com qualquer carro que lhe havia sido confiado.

Havia passado aquele ano inteiro como piloto de testes. Era a antepenúltima etapa e, mesmo assim, jamais havia dado mais de quatro voltas seguidas no carro. Mas não foi mal, classificando-se logo atrás do companheiro, Mark Blundell, em décimo. Belo começo da carreira de um futuro campeão mundial.

Nada é tão simples, porém. Nas categorias de base, ficou claro o quanto o piloto se destacava como talento natural. Inclusive, bateu diversos adversários que já tinham entrado na categoria máxima: Rubens Barrichello, Johnny Herbert, David Coulthard, por exemplo. Mas ele não era como os outros.

NOS AUTÓDROMOS INGLESES, Magnussen, 18 anos, costumava levar sua namorada, que por sua vez carregava nos braços o filho de ambos, Kevin. Ele não tinha patrocinadores. Fumava. E todos sabiam de sua resistência a se manter em forma.

Na revista Motor Sport de maio de 2005, Ron Dennis conta a impressão que teve do piloto nos dois anos em que foi seu piloto de testes: "Ele não sabia dizer por que não era rápido, e era a pessoa mais desorganizada que já conheci". Um péssimo desenvolvedor de carros, em suma.

Sem muito a fazer em Woking, Magnussen passou 1996 colhendo elogios na DTM e na Cart americana, onde correu algumas provas. Até que Paul Stewart, seu antigo chefe na F3 inglesa, o chamou para ser seu piloto na nova equipe de Fórmula 1, a Stewart-Ford.

Um carro saído de uma folha em branco, de uma equipe saída de uma folha em branco, definitivamente não era o lugar para Jan. Na pré-temporada, o motor estourava a cada cinco voltas, e se não era o motor, era a suspensão. Não à toa, a equipe começou a se voltar muito mais para Barrichello.

UMA PEQUENA ANEDOTA talvez revele a relação piloto-equipe que se desenvolveu em 1997. Magnussen estava na República Tcheca para promover o novo Ford Ka. A primeira pergunta na coletiva de imprensa foi o que ele achou do carro. Magnussen: "É um dos piores carros que eu já dirigi".

O clima nos boxes não poderia ser pior. Piloto e engenheiro não se entendiam. Quando Jackie Stewart teve a ideia de levá-lo a um curso de pilotagem em Oulton Park, o dinamarquês estourou.

Subitamente, porém, nas últimas provas da temporada, Magnussen começou a andar no mesmo ritmo de Barrichello. Eventualmente o superava. E o time começou a reconsiderar sua posição - talvez ele tivesse redescoberto o campeão mundial dentro de si.

O ano acabou com promessas do piloto de trabalhar duro no ano seguinte, e até entrar em forma.

ANDY LE FLEMING, engenheiro chefe da Stewart, na mesma edição da Motor Sport: "Mas o carro de 1998 era uma merda, e quando você tem um carro ruim são os mais inexperientes que sofrem. Era o primeiro ano dos pneus com ranhuras, eram tantos fatores diferentes que ele não sabia de onde vinham".

Após o GP do Canadá, ao conquistar seu primeiro ponto na categoria, Magnussen foi demitido e nunca mais voltou á Fórmula 1. Ele tinha 24 anos.

Prepotência? Ingenuidade? O que deu errado na carreira de uma das maiores promessas da década? Os envolvidos na história até hoje conjecturam: e se ele tivesse permanecido mais dois anos como piloto de testes na McLaren? E se ele tivesse conseguido uma vaga na Williams?

ATUALMENTE, JAN MAGNUSSEN é visto como um dos melhores pilotos de esporte-protótipos na ativa. Está feliz em seu meio. Quando Andrew Benson o perguntou o que sentia de ver seu filho no programa de desenvolvimento da McLaren se mostrou um pai coruja, orgulhosíssimo do rebento que cresceu nos paddocks. E preocupado. "A gente sempre fala dos erros que ele não deve cometer. Agora eu tenho a chance de desfazer alguns. Eu nunca cometi grandes erros, mas vários pequenos".

"Ele é melhor do que eu era na idade dele, e no carro ele mostra tudo o que é preciso para chegar à Fórmula 1. Mas é ele quem está indo para a F1. Não tem nada a ver comigo".

À sua maneira torta, é como se o destino tivesse dado uma segunda chance.

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