Wednesday, January 6, 2010

Bristow, Stacey, Camus


O ano de 2010 marca os 50 anos de três mortes que valem a pena ser registradas.

Duas delas ocorreram em um intervalo de minutos, a metros de distância uma da outra. Era o dia 19 de junho de 1960, e o GP da Bélgica se realizava em Spa-Francorchamps. Os muitos espectadores que se aglomeravam ao longo da rápida e perigosa curva Burnenville, tomada à direita, puderam ver a vida de dois britânicos terminar tragicamente.

Primeiro a de Chris Bristow, jovem com poucas provas no currículo, conhecido por seus colegas como “o selvagem” por ter batido ou rodado em quase todos os eventos em que participou.

Cinco voltas depois Alan Stacey, também jovem mas bastante experiente, tido como conservador na pista e carismático fora dela, encontra o mesmo fim de seu compatriota. Ao contrário de Bristow, a fatalidade de Stacey não se deu por erro de pilotagem, mas por ter sido atingido na cabeça por um pássaro.

A perplexidade e, talvez, o absurdo destas duas mortes é reforçada pelo acidente do também inglês Stirling Moss, um dia antes, quase ter morrido na mesma Burnenville. Embora a região seja conhecida pelas chuvas constantes, os acidentes todos aconteceram em pista seca sob sol forte.

A terceira morte é a de Albert Camus, que jamais pilotou um carro de corrida. Era filósofo. Morreu seis meses antes de Bristow e Stacey, no dia 4 de janeiro (há dois dias a data foi extensamente lembrada pelos jornais). Argelino de origem francesa, um dos escritores mais ativos de seu tempo (como atesta seu Nobel recebido aos 44 anos de idade), também morreu a bordo de um carro – em uma estrada da França, no banco do passageiro. O motorista em questão, Michel Gallimard, e os outros ocupantes do veículo, sobreviveram.

A morte de Camus ganha destaque aqui porque de certa foram encerra as muitas mortes que a Fórmula 1 nos legou. Um obscuro documentário sobre sua vida, Albert Camus, la tragédie du bonheur (França, 1998), traz um depoimento de um amigo cujo nome não mais me recordo.

Ele relata o telefonema que recebe dizendo que Camus havia sofrido um acidente de carro. “Ele está morto?”, questiona. “Sim”, do outro lado da linha. “Como foi, como aconteceu?”. “Era uma estrada deserta, seca e retilínea”.

“Deserto, seco, retilíneo”, conclui o amigo, “é o destino, é o destino”.

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