Thursday, January 28, 2010

A temporada de apresentações


Já se foi o tempo em que as equipes de Fórmula 1 gastavam os tubos com pirotecnias espetaculosas nos lançamentos de seus carros a cada começo de ano. Hoje ninguém mais se dá a tal luxo.

Talvez a apresentação mais vultuosa de todos os tempos tenha sido a da McLaren em 1997. Como se não bastasse expectativa de a equipe trocar seu visual após 23 anos de patrocínio da Marlboro, o evento ainda contou com um número das Spice Girls.

Embora poucos tenham chegado perto de tamanha ostentação, fogos de artifício e efeitos visuais perduraram ainda por muitos anos. Locações bizarras e panos por cima dos bólidos eram regra. Valia tudo para conquistar as manchetes dos jornais. O orçamento ilimitado fazia a alegria dos setores de ‘public relations’ das equipes.

Das equipes ricas, diga-se de passagem. Porque o fundo do grid não se podia permitir tanta gastança, e suas apresentações costumavam se resumir a seções de fotos improvisadas nos boxes de Silverstone ou de Melbourne no fim da tarde de quinta-feira, às vésperas do GP da Austrália. Os jornalistas costumavam registrá-los com algumas poucas linhas de desdém e sarcasmo.

Estávamos no auge do neoliberalismo, período em que os hábitos da nouvelle richesse talvez tenham atingido sua maior amplitude. E então veio a Enron, o estouro da bolha pontocom e o escândalo das fraudes nos balanços das grandes corporações.

E o que era auge do glamour de repente virou vergonhoso e kitsch. A moda era ser discreto, tentar chamar a atenção sem fazer alarde.

Como se não bastasse, o golpe de misericórdia veio com a crise econômica de 2008, e a discrição deu lugar ao mais disciplinado espartano. Nada de penduricalhos: apenas o carro, os pilotos em seus macacões, e talvez um shakedown para provar que aquilo não era teatrinho.

Este ano provavelmente as equipes se permitirão mais do que no ano passado, mas não se sabe até que ponto os excessos será permitidos. O certo é que os dias em que os lançamentos eram superproduções à la Broadway acabaram.

Mesmo assim, aquele período ainda reservou algumas poucas apresentações memoráveis. A minha preferida é a da
Benetton em 2000 (foto acima), quando colocaram seu modelo B200 no Museu Nacional de Arte da Catalunha. O carro azul, ao lado das esculturas de Gaudí e do skyline de Barcelona, ao menos rendeu uma boa imagem.

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