Da pior forma possível, a curva do Café, em Interlagos, entrou em pautas de discussão nacionais e internacionais esta semana. Talvez seja interessante expandir a análise. Começando do começo.
Interlagos foi desenhada, no fim dos anos 1930, como a interseção entre as duas grandes tradições automobilísticas, a europeia e a norte-americana. Daí ele apresentar, originalmente, uma anel externo, que tende ao oval, e um traçado interno, de curvas diversificadas. Curvas do anel externo tinham, em sua maioria, números, como nos EUA: Curva 1, Curva 2 etc. Já as internas possuíam nomes, tal qual no Velho Mundo - Pinheirinho, Laranja, Sol etc etc.
A influência norte-americana também pode ser vista em fotografias dos anos 40, em que algumas curvas eram sinalizadas com pneus pintados de branco e enterrados ás margens da pista, como se pode ver nos registros antigos de autódromos como o Magdalena Mixhuca (Cidade do México) e Riverside (Califórnia).
Pois bem, o Café é uma das curvas posicionadas tanto no traçado misto quanto no anel externo, e uma das poucas que sobreviveu intacta à reforma de 1990, algo que a torna ímpar.
Eis que ela foi sede de dois acidentes fatais recentes. Duas batidas "em T". Na primeira, Rafael Sperafico saiu da pista e teve seu carro jogado de volta ao asfalto, enquanto passava o pelotão. Para que a dinâmica não se repetisse, a barreira de pneus na pequena área de escape foi removida, em prol de uma "safer barrier", muro que absorve o impacto e mantém o carro fora do traçado.
Com Gustavo Sondermann, em uma situação de chuva forte e pouca visibilidade, a tecnologia não impediu um comportamento semelhante de seu carro.
Em tese, o aparelho de segurança no Café não está errado: uma curva com um grau menor que 30º não deve ter área de escape extensa, mas um muro em seu percurso, para que o carro colida e deslize até parar. Talvez devido ao fato de ela ser em subida, ou por alguma especificidade na pequena área de recuo, ou por qualquer outro motivo, os carros da Stock parecem reagir de forma anômala a esse dispositivo.
Uma forma triste, de qualquer fora, de descobrir que esse ponto de contato entre as escolas europeia e norte-americana acabou por gerar algo inédito, especificamente brasileiro, totalmente novo - e imprevisível.
foto: Daniel Médici, 2008
Wednesday, April 6, 2011
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