Friday, April 1, 2011
Um Brabham à frente - e abaixo - de seu tempo
Gordon Murray era um projetista á frente de seu tempo. Em plena era turbo, apostou que o próximo grande salto de desempenho dos carros não se daria nos motores, mas na aerodinâmica.
Por isso, ao se deparar com uma folha em branco, entre 1985 e 1986, decidiu criar, para a Brabham, um bólido revolucionário em termos de desenho. Daí surgiu o BT55 (acima).
Ao alinhar para os testes de pneus na pré-temporada de 25 anos atrás, em Jacarepaguá, o carro causou alvoroço. Pudera: media 82 cm do chão ao santantônio. Tudo era mais baixo do que no resto dos outros carros.
Assustou a concorrência o fato de a ideia do projeto fazer sentido: se o aerofólio traseiro é a principal peça responsável pela pressão aerodinâmica, deve-se eliminar qualquer obstáculo entre o ar e ela. Rebaixe-se tudo e deixe o vento soprar o mais limpo possível. No mais, o centro de gravidade ficaria mais baixo, o que melhora a estabilidade. Isso tem um custo, é claro: é necessário encontrar uma nova posição para o motor (turbo, lembre-se), redesenhar o câmbio, e até mexer na posição do piloto. Agora, Elio de Angelis e Riccardo Patrese teriam que ficar mais inclinados, abrir as pernas e dobrar mais os joelhos.
Os primeiros testes foram acima da expectativa, mas inconclusivos. Quando a temporada começou, porém, os resultados desapontaram. Havia problemas de superaquecimento - aparentemente, os BMW se sentiam desconfortáveis - e aderência. Quebras e mais quebras se sucediam.
Resolver tais problemas era o objetivo da equipe nos testes coletivos de Paul Ricard marcados para maio, logo após o GP de Mônaco. No autódromo francês, de Angelis perdeu o controle na aproximação da Verrière, decolou, bateu e ficou preso em meio ás chamas, desacordado. O acidente seria fatal.
Derek Warwick o substituiu, mas a equipe estava em frangalhos. Ecclestone e Murray não se entendiam mais. O BT55 foi descartado ao fim da temporada.
Como o blogueiro Paulo Alexandre Teixeira lembra em um texto recente, Murray retomaria suas ideias dois anos depois, na McLaren, com um sucesso assombroso. Mas os princípios esboçados em 1986 subsistem até hoje.
A era turbo realmente acabou, numa canetada. Motores aspirados tomaram o lugar. Honda e Renault dominaram boa parte dos anos 90. Mas não demorou para a aerodinâmica se tornar o principal fator a influenciar o desempenho dos carros.
A prova disso é que, em 2001, a mesma BMW, agora equipando as Williams, desenvolveu uma cavalaria absurda, mas incapaz de sequer ameaçar a supremacia incontestável das Ferrari.
À luz de duas décadas e meia é mais fácil avaliar os erros do BT55. Murray pensou em eliminar obstáculos, quando o conceito que se provou mais bem-sucedido ao longo dos anos foi o de direcionar o fluxo de ar, jogá-lo em direção ao aerofólio. Inegável, porém, que aquele carro baixo e problemático, tal qual um anjo maldito, escondia a genialidade de seu criador.
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