Saturday, July 25, 2009

Estes lindos capacetes e a ilusão da segurança total


Nesta semana, o Blog do Capelli publicou um texto sobre a frequente troca de desenho do capacete do estreante Jaime Alguersuari em sua curta carreira no automobilismo. Sobre este fenômeno, típico dos pilotos mais jovens, Capelli comentou: “É o retrato de uma geração que troca de casco como quem troca de cueca”.

Aproveitando a deixa, emendei: “Melhor que o Massa, que nunca trocou de cueca”. Foi algo despretensioso, sem relação com os capacetes do Felipe (ele já usou ao menos dois modelos na Fórmula 1), apenas lembrando sua estranha superstição de entrar no carro sempre com a mesma roupa de baixo.

Após os treinos do GP da Hungria, o comentário ganhou uma dimensão inesperada. Em primeiro lugar, porque malgrado a superstição, Felipe Massa sofreu um acidente seriíssimo – embora, felizmente, sem consequências graves. Mas principalmente porque tal fato puxa uma série de reflexões sobre o capacete.

Parece que, nos últimos tempos, temos visto a falência desta peça. Basta lembrar, na semana passada, do capacete branco e azul de Henry Surtees pendendo para o lado, após ser atingido por um pneu. Ou da imagem ainda viva do capacete amarelo de Senna igualmente tombado, em Imola.

Desde que foi adotado como obrigatório, nos anos 50, ele cresceu, literalmente, ao longo dos 20 anos seguintes, até compreender em si toda a cabeça do piloto – uma visão que, paradoxalmente, causou uma sensação de medo nos primeiros espectadores. Este crescimento também tem algo de metafórico: de quebra-galho, o dispositivo passou a representar a segurança total, a responsabilidade de evitar o óbito no automobilismo.

Claro, só um louco afirmaria que o capacete hoje em dia é desnecessário – afinal, quase todo choque frontal faz o piloto bater a cabeça no volante. A falência do capacete reside no fato desse efeito de segurança total ser completamente ilusório.

Hoje, no entanto, numa Fórmula 1 de raras disputas em pista (logo, de menos colisão entre carros), o capacete ainda passa outra ilusão: a de ser prescindível, quem sabe até meramente decorativo. Quando ele se faz necessário e falha, produz acontecimentos dificilmente esquecíveis.

Poucos sabem que o acidente que deformou Niki Lauda no GP da Alemanha de 76 teria sido infinitamente menos grave se seu capacete não tivesse se desprendido com facilidade. O capacete amarelo de Senna não impediu que uma barra da suspensão perfurasse seu crânio. O HANS, primo-irmão do capacete, não impediu a quebra do pescoço de Henry Surtees. E a viseira (diz-se) à prova de balas não impediu a fratura e o corte no supercílio de Felipe Massa.

Não à toa hoje trocam o desenho do capacete “como trocam de cueca”. Há quinze, vinte anos, ele era muito mais requisitado a exercer sua função primária, talvez por isso os pilotos os enxergassem como extensão de si próprios, da própria identidade. Atualmente este laço se afrouxou, a função decorativa quase assume o primeiro plano – e então alterar a pintura já não fere sensibilidades.

Hoje o capacete de Massa foi requisitado como dispositivo de segurança: salvou a vida do piloto, mas não resguardou sua integridade. Motivo, talvez, para que Felipe troque a pintura do capacete. Ou ao menos sua cueca...

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