Devo esta série a uma efeméride e a uma coincidência. A efeméride é dada a conhecer hoje, os 25 anos do único GP de Dallas realizado, que traz a oportunidade para falar da pista de rua erguida no Texas State Fair Park para abrigar o evento.
Esta série pretende traçar um caminho histórico da evolução dos circuitos na Fórmula 1 até o período atual – redutor, com certeza, mas o importante é estimular a discussão.
Dallas não é um circuito representativo, mas assinala uma quebra de certos paradigmas da categoria, talvez justamente a quebra que hoje desembocou na enxurrada de circuitos Tilke.
Eram 3,9 km ladeados por muros em toda extensão de uma pista tão travada quanto Monte Carlo, ou mais. Some-se também o calor do pleno verão texano, cujas temperaturas ultrapassavam 40o C. Os organizadores, em sua ingenuidade, estipularam a corrida em 78 voltas. Logo os pilotos notaram que tal feito não seria possível (a pole, para efeitos de comparação, foi obtida em 1m37s041).
Os pilotos pressionaram para que a distância fosse reduzida a 56 voltas. Ao final, foram acordadas 67: número que se provou incrivelmente exato, visto que a prova acabou em pouco mais de duas horas, todas as voltas completadas.
Desde os treinos de sexta Fair Park colecionou críticas. O asfalto, de baixa qualidade, partia-se com facilidade. Os muros passaram a ser decorados com marcas de pneus. Para amenizar o calor, a organização determinou a largada para as 11h da manhã, com um warm up de meia hora às 7h. Jacques Lafitte, em protesto, apareceu de pijama no paddock, mas não foi necessário: uma corrida de CanAm no sábado à tarde destruiu pedaços inteiros do traçado.
Às 10h, os remendos feitos com concreto de secagem rápida estavam prontos, mas ninguém sabia o que seria da corrida. Lauda e Prost tentavam organizar um boicote. Os pilotos decidiram que, após dez voltas, eles julgariam o estado geral da pista e decidiriam se continuariam ou não.
O único que não parecia preocupado era Keke Rosberg. “Não sei por que tanta confusão. A gente reclama e protesta até a largada e então corre, como sempre. A gente veio de longe e já está tudo pronto. Como ou sem asfalto, você sabe tanto quanto eu que nós vamos correr”.
De tal forma que largaram, frente a um público de 90 mil pessoas, sem saber o que iria acontecer. Nas palavras de Piquet, ninguém sabia o que iria quebrar primeiro, se o circuito, os carros ou os pilotos. Ocorreram as quebras exatamente nessa ordem. Com menos de dez voltas, novos buracos cresciam e as pedras se espalhavam sobre a pista. Pilotos e carros sucumbiam ao calor. Foi uma prova de resistência.
Como seria de se supor, ao final de duas horas o vencedor foi Rosberg. Após várias ultrapassagens, de ser ultrapassado por Prost e vê-lo quebrar, chegou ao final triunfante. Seu segredo: correu com um capacete preenchido com gelo, mantendo-se mais lúcido que seus adversários.
A Fórmula 1 saiu de Dallas para nunca mais voltar. Seus promotores não trouxeram de volta, no entanto, a convicção de que a categoria era capaz de correr em qualquer lugar (ou seja, em qualquer lugar onde o dinheiro estivesse). Até o início dos anos 80, era possível tolerar grandes gambiarras, como o estacionamento do Caesar’s Palace, ou as imperdoáveis ondulações da Seaside Way em Long Beach (em 1983). Era uma convicção tão arraigada que mantinha-se inclusive planos de fazer Grandes Prêmios em Moscou e Nova York, posteriormente abandonados.
Não haveria mais espaço para tais ideias, no entanto. Os circuitos mais improvisados, como Detroit, aos poucos desapareceram. O mesmo se pode dizer dos pilotos que não se importavam, e até pareciam preferir, condições adversas de corrida. Pilotos dos quais o mais emblemático era justamente Rosberg. O fracasso de Dallas foi a morte simbólica dessa Fórmula 1 um pouco á la Keke.
Esta série pretende traçar um caminho histórico da evolução dos circuitos na Fórmula 1 até o período atual – redutor, com certeza, mas o importante é estimular a discussão.
Dallas não é um circuito representativo, mas assinala uma quebra de certos paradigmas da categoria, talvez justamente a quebra que hoje desembocou na enxurrada de circuitos Tilke.
Eram 3,9 km ladeados por muros em toda extensão de uma pista tão travada quanto Monte Carlo, ou mais. Some-se também o calor do pleno verão texano, cujas temperaturas ultrapassavam 40o C. Os organizadores, em sua ingenuidade, estipularam a corrida em 78 voltas. Logo os pilotos notaram que tal feito não seria possível (a pole, para efeitos de comparação, foi obtida em 1m37s041).
Os pilotos pressionaram para que a distância fosse reduzida a 56 voltas. Ao final, foram acordadas 67: número que se provou incrivelmente exato, visto que a prova acabou em pouco mais de duas horas, todas as voltas completadas.
Desde os treinos de sexta Fair Park colecionou críticas. O asfalto, de baixa qualidade, partia-se com facilidade. Os muros passaram a ser decorados com marcas de pneus. Para amenizar o calor, a organização determinou a largada para as 11h da manhã, com um warm up de meia hora às 7h. Jacques Lafitte, em protesto, apareceu de pijama no paddock, mas não foi necessário: uma corrida de CanAm no sábado à tarde destruiu pedaços inteiros do traçado.
Às 10h, os remendos feitos com concreto de secagem rápida estavam prontos, mas ninguém sabia o que seria da corrida. Lauda e Prost tentavam organizar um boicote. Os pilotos decidiram que, após dez voltas, eles julgariam o estado geral da pista e decidiriam se continuariam ou não.
O único que não parecia preocupado era Keke Rosberg. “Não sei por que tanta confusão. A gente reclama e protesta até a largada e então corre, como sempre. A gente veio de longe e já está tudo pronto. Como ou sem asfalto, você sabe tanto quanto eu que nós vamos correr”.
De tal forma que largaram, frente a um público de 90 mil pessoas, sem saber o que iria acontecer. Nas palavras de Piquet, ninguém sabia o que iria quebrar primeiro, se o circuito, os carros ou os pilotos. Ocorreram as quebras exatamente nessa ordem. Com menos de dez voltas, novos buracos cresciam e as pedras se espalhavam sobre a pista. Pilotos e carros sucumbiam ao calor. Foi uma prova de resistência.
Como seria de se supor, ao final de duas horas o vencedor foi Rosberg. Após várias ultrapassagens, de ser ultrapassado por Prost e vê-lo quebrar, chegou ao final triunfante. Seu segredo: correu com um capacete preenchido com gelo, mantendo-se mais lúcido que seus adversários.
A Fórmula 1 saiu de Dallas para nunca mais voltar. Seus promotores não trouxeram de volta, no entanto, a convicção de que a categoria era capaz de correr em qualquer lugar (ou seja, em qualquer lugar onde o dinheiro estivesse). Até o início dos anos 80, era possível tolerar grandes gambiarras, como o estacionamento do Caesar’s Palace, ou as imperdoáveis ondulações da Seaside Way em Long Beach (em 1983). Era uma convicção tão arraigada que mantinha-se inclusive planos de fazer Grandes Prêmios em Moscou e Nova York, posteriormente abandonados.
Não haveria mais espaço para tais ideias, no entanto. Os circuitos mais improvisados, como Detroit, aos poucos desapareceram. O mesmo se pode dizer dos pilotos que não se importavam, e até pareciam preferir, condições adversas de corrida. Pilotos dos quais o mais emblemático era justamente Rosberg. O fracasso de Dallas foi a morte simbólica dessa Fórmula 1 um pouco á la Keke.
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