A notícia menos surpreendente da atual pré-temporada da Fórmula 1 veio à tona: a USF1 capitulou. A evidência de fracasso da equipe é tão forte que torna-se quase irresistível passar batido pelo legado que ela deixou, enquanto um olhar mais detido talvez nos revele o tesouro escondido no porão da fábrica de Charlotte.
Porque antes de tudo, antes mesmo de ser uma equipe, a USF1 é um símbolo do nosso tempo. É certo que de sua sede jamais saiu um carro pronto, e provavelmente jamais sairá. Mas é inegável que a equipe soube construir um outro tipo de produto, talvez quase tão complexo: a imagem de um carro.
Não à toa a grande parceria comercial que o time firmou foi com nada menos que o Youtube.
O Youtube foi criado em 2004 e a gente não sabe mais como conseguia viver sem ele. Os mais novos talvez se surpreendam, mas houve uma época em que as imagens eram artigos valiosos, raros e caros.
Tínhamos que recorrer à memória, ou gastar o que não tínhamos em fitas de vídeo ou DVD. Ou ainda pagar a TV a cabo e torcer para que algum canal passasse o que queríamos lembrar – guardávamos jornais e revistas velhas pensando que talvez fosse a única forma de preservar a memória de onde vivíamos e daquilo que éramos.
Um belo dia, decidiram que a internet não precisava mais correr pelo fio do telefone pelo custo de uma ligação local. E as páginas da web, que antes pareciam feitas de papel, ganharam vida própria.
Almas bem intencionadas tiraram seus arquivos do armário e colocaram onde podiam ser vistos por todos. Jornais antes centros noticiosos, não resistiram à pressão e também passaram a fornecer de graça aquilo que antes era pago. A informação se pôs em marcha e foi obrigada a circular.
O mesmo aconteceu com as imagens: tudo deve ser mostrado. Se algo não foi filmado, é porque provavelmente não existe. Eis a premissa de nossa época.
Ver para crer
É possível encontrar muito material interessante no canal que a USF1 mantém no Youtube. Uma entrevista com Dan Gurney feita no ano passado, na qual o lendário piloto e construtor dá sua benção para a criação de uma nova equipe 100% estadunidense na Fórmula 1. Um engenheiro explicando como se monta a parte elétrica de um carro. A construção de um bico. A destruição de um bico. Tudo devidamente registrado.
As reflexões sobre imagem técnica e verossimilhança são mais antigas do que o vídeo e a internet: vieram com a fotografia. Desde os primórdios do século XX, portanto, pensadores apontam o potencial falsificador que elas portavam. A metáfora do espelho não funciona mais.
No entanto, como apontou Roland Barthes em A Câmara clara, há algo que não se pode negar da imagem: que ela mostra. Pode não ser verdade, mas alguma coisa está lá.
O mundo contemporâneo exige mais do que o trabalho: exige a prova dele, que se mostre, que se revele ao olhar. Daí a premissa do mostrar. O jovem de classe média atual não tem vida se ele não a relata em um blog, no Orkut, no Facebook, no Twitter. Ora, não foi mais do que isso o que a USF1 fez nos últimos seis meses. Ela mostrou.
Infelizmente, no afã de cumprir com as exigências do mundo contemporâneo, ela se esqueceu de prestar contas às velhas exigências modernas, lastro do mundo atual. Ela prometeu um carro e nos entregou imagens de um. Infelizmente para ela, imagens ainda não são capazes de vencer corridas.
Porque antes de tudo, antes mesmo de ser uma equipe, a USF1 é um símbolo do nosso tempo. É certo que de sua sede jamais saiu um carro pronto, e provavelmente jamais sairá. Mas é inegável que a equipe soube construir um outro tipo de produto, talvez quase tão complexo: a imagem de um carro.
Não à toa a grande parceria comercial que o time firmou foi com nada menos que o Youtube.
O Youtube foi criado em 2004 e a gente não sabe mais como conseguia viver sem ele. Os mais novos talvez se surpreendam, mas houve uma época em que as imagens eram artigos valiosos, raros e caros.
Tínhamos que recorrer à memória, ou gastar o que não tínhamos em fitas de vídeo ou DVD. Ou ainda pagar a TV a cabo e torcer para que algum canal passasse o que queríamos lembrar – guardávamos jornais e revistas velhas pensando que talvez fosse a única forma de preservar a memória de onde vivíamos e daquilo que éramos.
Um belo dia, decidiram que a internet não precisava mais correr pelo fio do telefone pelo custo de uma ligação local. E as páginas da web, que antes pareciam feitas de papel, ganharam vida própria.
Almas bem intencionadas tiraram seus arquivos do armário e colocaram onde podiam ser vistos por todos. Jornais antes centros noticiosos, não resistiram à pressão e também passaram a fornecer de graça aquilo que antes era pago. A informação se pôs em marcha e foi obrigada a circular.
O mesmo aconteceu com as imagens: tudo deve ser mostrado. Se algo não foi filmado, é porque provavelmente não existe. Eis a premissa de nossa época.
Ver para crer
É possível encontrar muito material interessante no canal que a USF1 mantém no Youtube. Uma entrevista com Dan Gurney feita no ano passado, na qual o lendário piloto e construtor dá sua benção para a criação de uma nova equipe 100% estadunidense na Fórmula 1. Um engenheiro explicando como se monta a parte elétrica de um carro. A construção de um bico. A destruição de um bico. Tudo devidamente registrado.
As reflexões sobre imagem técnica e verossimilhança são mais antigas do que o vídeo e a internet: vieram com a fotografia. Desde os primórdios do século XX, portanto, pensadores apontam o potencial falsificador que elas portavam. A metáfora do espelho não funciona mais.
No entanto, como apontou Roland Barthes em A Câmara clara, há algo que não se pode negar da imagem: que ela mostra. Pode não ser verdade, mas alguma coisa está lá.
O mundo contemporâneo exige mais do que o trabalho: exige a prova dele, que se mostre, que se revele ao olhar. Daí a premissa do mostrar. O jovem de classe média atual não tem vida se ele não a relata em um blog, no Orkut, no Facebook, no Twitter. Ora, não foi mais do que isso o que a USF1 fez nos últimos seis meses. Ela mostrou.
Infelizmente, no afã de cumprir com as exigências do mundo contemporâneo, ela se esqueceu de prestar contas às velhas exigências modernas, lastro do mundo atual. Ela prometeu um carro e nos entregou imagens de um. Infelizmente para ela, imagens ainda não são capazes de vencer corridas.
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