Monday, May 3, 2010
Acidente na Austrália acorda velhos fantasmas
As imagens, que correram o mundo sexta passada, atestam a sorte que tiveram o piloto, Kain Magro, e os dois espectadores atingidos. O acidente ocorreu na pista australiana de Ipswich, em Queensland, durante uma prova suporte para a V8 Supercars. Os torcedores chegaram ao hospital em estado grave, um com um corte na cabeça, outro tendo sofrido uma concussão.
Apesar da grade de proteção baixa, pode-se creditar ao azar o fato de o carro da Mini Challenge ter atravessado incólume as duas barreiras que separavam a pista do público. Afinal, os espectadores estavam posicionados a uma distância segura da pista.
O susto, no entanto, explica a exasperação. Coincidentemente, o último acidente com morte na Fórmula 1 aconteceu também na Austrália, quando os detritos de uma batida entre Ralf Schumacher e Jacques Villeneuve, durante o GP de 2001, feriram um comissário de pista.
Mortes de espectadores podem não ser tão faladas quanto as glamourosas fatalidades com pilotos, mas costumam gerar discussões acirradas entre entusiastas e críticos do esporte a motor. Pilotos são figuras públicas, mas sentar em um cockpit quase equivale a assinar um termo de responsabilidade, uma admissão de que se está colocando a própria vida em risco, voluntariamente.
Já a morte de anônimos em situações de corrida não rendem obituários muito extensos nos jornais. No entanto, o pacto que o espectador estabelece com o espetáculo de uma corrida não pressupõe que sua vida seja posta em risco. E a quebra do pacto costuma determinar a deslegitimação do evento.
Daí, talvez, vem a obstinação com que o automobilismo (e seus organizadores) tenta abafar ou minimizar tais ocorrências. As infelizes e agressivas declarações do CEO de Ipswich são uma prova disso.
O acidente na Austrália também vem em um momento propício. Em primeiro lugar, no mesmo fim de semana em que se lembrou os 16 anos de uma das maiores tragédias do automobilismo recente. Em segundo lugar, mais importante ainda: no próximo dia 11 de junho, a maior tragédia da história das corridas completa 55 anos.
Nas 24 Horas de Le Mans de 1955, o carro desgovernado de Pierre Levegh alçou voo em plena reta dos boxes, ceifando algo entre 80 e 120 vidas, incluindo a do próprio.
Pode até parecer sarcasmo, mas a V8 Supercar não correria em Ipswich neste final de semana, mas no autódromo de Barbagallo, em Perth. A troca ocorreu porque os organizadores taxaram as condições de conservação deste último como de "terceiro mundo".
Muitos avanços foram obtidos na segurança dos autódromos. Mas, até hoje, nunca foi erguido um monumento ou um memorial sequer em nome das vidas perdidas em Le Mans naquele 11 de junho.
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