Sunday, July 27, 2008

O videoclipe da Alemanha


Por causa de um cadastro que fiz há tempos para ter acesso ao Live Timing no site oficial da Fórmula 1, venho recebendo emails após as corridas sobre “vídeos exclusivos” disponibilizados por eles. O “Exclusive video edit –Germany highlights” foi o primeiro que resolvi assistir.

A seqüência de abertura é a seguinte: tomada de helicóptero do circuito de Hockenheim (ou o que sobrou dele, pois a imagem só mostra a área do Motodrom); duas jovens mulheres loiras agitando pompons nas cores da bandeira alemã na torcida, em câmera lenta; uma ôla no Motrodrom; uma grid girl escultural cujo sorriso faria qualquer um abrir uma conta no banco cujo nome está estampado em seu uniforme; Raikkonen de boné e óculos escuros; Hamilton, de capacete, no cockpit; Raikkonen, de capacete, no cockpit; Massa, de boné, sério, fazendo sinal de positivo com a cabeça; um vip qualquer entre mecânicos da Ferrari; a largada.

Isto não dura mais do que 20 segundos.

A partir de então, como o título sugere, o filme assume o objetivo de trazer as melhores imagens da prova. Alguns detalhes, porém, chamam a atenção: excesso de modulações artificiais do ritmo da cena (câmeras lentas ou aceleradas); excesso de imagens de mecânicos, chefes de equipe e celebridades no boxes, sempre com alguma expressão facilmente decifrável no rosto relacionada a uma imagem dos carros em pista; aproximações súbitas de enquadramento produzidas digitalmente.

Os recursos utilizados neste vídeo oficial são reveladores. É como se, na Fórmula 1 atual, o movimento dos carros fosse tão preciso, tão calculado e sem graça, que as câmeras precisassem se mover de forma frenética e sincopada para as imagens trazerem um mínimo de emoção.

Público-alvo
A edição das imagens, de cortes rápidos, faz com que quem não tenha visto a corrida de antemão sequer entenda o que aconteceu nela. O vídeo não é explicativo, é mais um videoclipe, o que denuncia o público-alvo na mira da FOM: os jovens.

Chamar o vídeo de videoclipe não é metáfora. A narrativa é realmente estruturada em cima de uma música. Mais precisamente, a canção Monster, da banda galesa The Automatic (um indie-rock trivial, aliás). A entrada do Safety Car ocorre no exato instante em que o riff cede lugar a um trecho sem vocais. No filme, o Safety Car parece muito mais emocionante do que ele foi ao vivo...

A seqüência de planos que estrutura a narrativa é uma fórmula várias vezes repetida. Exemplo: plano da colisão entre Coulthard e Barrichello; engenheiro da Red Bull leva as mãos à cabeça; Barrichello aparece nos boxes com expressão resignada. Só é possível notar que as imagens aparecem em ordem cronológica (ou querem produzir efeito cronológico) a partir de quando se mostra o acidente de Glock.

Motivações
O filme tem um objetivo preciso: atrair a audiência jovem para a Fórmula 1. Os jovens são os maiores consumidores da cultura, e consomem cada vez menos a Fórmula 1. Qual a solução que a categoria encontrou para o problema? Transformar as corridas em um meteórico desfilar de imagens, sem dar tempo ao espectador de decifrar a falta de sentido delas.

E, quem sabe, fazer quem o assiste abrir uma conta no banco cujo nome está estampado no uniforme da grid girl.
Imagem: someecards

0 comments:

Post a Comment