Caros leitores,
De hoje até a próxima terça-feira é carnaval e, sendo a ampla base de leitores desta página brasileiros, que costumam atribuir grande importância às festas desta data, o regime de atualização do blog será levemente atípico até o dia 16.
Mas não se preocupem, porque esse modus operandi deve agradar a muitos: redigi antecipadamente vários posts pequenos, com curiosidades ou simples comentários sobre assuntos atuais ou não muito. Eles foram previamente agendados e entrarão no ar periodicamente, com mais de um post novo por dia. Não se trata das reflexões muito desenvolvidas que costumam ser o carro-chefe desta página - meu critério foi falar do que fosse agradável.
Espero que leiam, durante ou depois da folia, e que gostem!
Saturday, February 13, 2010
Thursday, February 11, 2010
Tendência figurativa

Muitos detalhes podem ter chamado a atenção no lançamento do novo carro da Red Bull ontem, em Jerez: as linhas convencionais, os novos patrocinadores estampados ou até o estranho gorro que Vettel estava usando. Algo igualmente digno de menção é a pintura do aerofólio, que reproduz a latinha que dá nome ao time.
É importante atentar a ela por ser uma das únicas (ou única?) apostas numa pintura figurativa este ano. Isso não influi no rendimento do carro em pista, claro, mas revela a forma de a equipe lidar com sua exposição midiática.
Quem algum dia leu sobre a história da arte no século XX sabe que as manifestações estéticas migraram do figurativismo para o abstracionismo na fase moderna. A pintura dos carros na Fórmula 1 se movimenta na direção contrária: está calcada no abstrato e, eventualmente, se desloca para o figurativo.
Uma das primeiras e mais radicais apostas nesse sentido foi realizada pela Hesketh, no final dos anos 70, ao estampar desenhos de pin-ups na lataria. A Shadow também desenhou leões no mesmo período. Hoje, no entanto, é impossível vê-las exceto como uma manifestação isolada e kitsch – certamente chamou a atenção, mas não parecia fazer sentido.
Já nos anos 90 foi a vez da Jordan retomar a incursão figurativista, brincando com o bico de seus carros. Primeiro estampou uma cobra, depois uma abelha e, finalmente, um tubarão estilizado.
Agora é a vez da Red Bull, que estampa pela primeira vez num carro de Fórmula 1 a imagem do produto que quer vender. Seus modelos sempre ostentaram o touro estilizado, mas ele funcionava mais como ícone do que como uma foto. E, por mais que a abelha no carro da Jordan remetesse ao patrocinador, eles vendiam cigarros, e não abelhas.
A aposta da Red Bull em apresentar seu produto (a latinha) em vez apenas do logo é bastante consciente: ela sabe que seus consumidores estarão assistindo a corrida pela TV. Não apenas pela TV, mas em TVs grandes. Nos anos 70 a Fórmula 1 chegava aos telespectadores, via de regra, em formato pequeno e de baixa resolução, quando não em preto e branco. Hoje a recepção mudou – mas não a forma das equipes estamparem seus patrocinadores.
Olhar a Red Bull este ano, portanto, será importante não apenas pelo seu desempenho, mas também para ver se sua forma de anunciar o produto dará certo.
Afinal, é uma questão de tempo para que as corridas passem a ser transmitidas em full HD – embora a FOM resista a adotar tecnologias mais avançadas de resolução, alguma hora ela terá de ceder.
E quando a alta definição chegar à Fórmula 1, talvez as outras equipes adotem a mesma estratégia. Para além de Adrian Newey, a Red Bull está lançando tendência.
É importante atentar a ela por ser uma das únicas (ou única?) apostas numa pintura figurativa este ano. Isso não influi no rendimento do carro em pista, claro, mas revela a forma de a equipe lidar com sua exposição midiática.
Quem algum dia leu sobre a história da arte no século XX sabe que as manifestações estéticas migraram do figurativismo para o abstracionismo na fase moderna. A pintura dos carros na Fórmula 1 se movimenta na direção contrária: está calcada no abstrato e, eventualmente, se desloca para o figurativo.
Uma das primeiras e mais radicais apostas nesse sentido foi realizada pela Hesketh, no final dos anos 70, ao estampar desenhos de pin-ups na lataria. A Shadow também desenhou leões no mesmo período. Hoje, no entanto, é impossível vê-las exceto como uma manifestação isolada e kitsch – certamente chamou a atenção, mas não parecia fazer sentido.
Já nos anos 90 foi a vez da Jordan retomar a incursão figurativista, brincando com o bico de seus carros. Primeiro estampou uma cobra, depois uma abelha e, finalmente, um tubarão estilizado.
Agora é a vez da Red Bull, que estampa pela primeira vez num carro de Fórmula 1 a imagem do produto que quer vender. Seus modelos sempre ostentaram o touro estilizado, mas ele funcionava mais como ícone do que como uma foto. E, por mais que a abelha no carro da Jordan remetesse ao patrocinador, eles vendiam cigarros, e não abelhas.
A aposta da Red Bull em apresentar seu produto (a latinha) em vez apenas do logo é bastante consciente: ela sabe que seus consumidores estarão assistindo a corrida pela TV. Não apenas pela TV, mas em TVs grandes. Nos anos 70 a Fórmula 1 chegava aos telespectadores, via de regra, em formato pequeno e de baixa resolução, quando não em preto e branco. Hoje a recepção mudou – mas não a forma das equipes estamparem seus patrocinadores.
Olhar a Red Bull este ano, portanto, será importante não apenas pelo seu desempenho, mas também para ver se sua forma de anunciar o produto dará certo.
Afinal, é uma questão de tempo para que as corridas passem a ser transmitidas em full HD – embora a FOM resista a adotar tecnologias mais avançadas de resolução, alguma hora ela terá de ceder.
E quando a alta definição chegar à Fórmula 1, talvez as outras equipes adotem a mesma estratégia. Para além de Adrian Newey, a Red Bull está lançando tendência.
Tuesday, February 9, 2010
O primeiro "track day" em Interlagos, 1939

Estadão, dia 15 de abril de 1939. A S.A. Auto-Estradas publica um convite aos paulistanos em geral, aos "technicos" e aos "volantes" (que ainda não eram chamados usualmente de 'pilotos') em particular, para que deem uma volta no traçado do autódromo de Interlagos, ainda em construção.
Estarão presentes, entre outros, os organizadores da corrida da Gávea. O principal objetivo do que hoje seria chamado de "track day" é coletar opiniões sobre a pista para eventuais reparos antes que ela seja asfaltada.
O descobridor deste documento único foi meu amigo Leonardo Zanon, que o encontrou enquanto dava uma passada pelo Arquivo Público do Estado - para quem mora em São Paulo, uma fonte inesgotável de material de pesquisa.
O desenho da pista mostra, além do antigo traçado, uma série de equipamentos (salvo engano) jamais concluídos, como um estádio, quadra de tênis, grandes arquibancadas nas curvas 1 e 2 e no lado interno do Mergulho, restaurante e um estacionamento de proporções faraônicas.
A nota também ensina como chegar à longínqua Interlagos. Interessante notar que o procedimento envolve pegar uma auto-estrada...
Estarão presentes, entre outros, os organizadores da corrida da Gávea. O principal objetivo do que hoje seria chamado de "track day" é coletar opiniões sobre a pista para eventuais reparos antes que ela seja asfaltada.
O descobridor deste documento único foi meu amigo Leonardo Zanon, que o encontrou enquanto dava uma passada pelo Arquivo Público do Estado - para quem mora em São Paulo, uma fonte inesgotável de material de pesquisa.
O desenho da pista mostra, além do antigo traçado, uma série de equipamentos (salvo engano) jamais concluídos, como um estádio, quadra de tênis, grandes arquibancadas nas curvas 1 e 2 e no lado interno do Mergulho, restaurante e um estacionamento de proporções faraônicas.
A nota também ensina como chegar à longínqua Interlagos. Interessante notar que o procedimento envolve pegar uma auto-estrada...
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Monday, February 8, 2010
Bom trabalho

Não, não me refiro à performance de Rubens Barrichello durante os testes em Valência na semana passada - há pouco mais que nada possível de se deduzir com o resultado destes testes. Neste caso, me refiro ao fotógrafo que assina a imagem acima, o qual não me é dado a saber o nome.
Para além do objeto da fotografia (o carro pilotado por Barrichello), ele soube usar o movimento para construir as linhas horizontais que constituem seu 'campo', ou contexto.
Dessa forma, enquanto o objeto permanece mudo, sem agregar informação, o contexto fala e se torna o punctum da imagem. O vai-e-volta dos guard rails e a ausência de torcedores na arquibancada constroem, mais do que um registro, uma opinião sobre os testes da pré-temporada.
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Friday, February 5, 2010
A hipertrofia de Sakhir

A etapa inaugural da temporada da Fórmula 1 será disputada em um circuito parcialmente novo: os carros percorrerão um inédito anexo da pista de Sakhir, que estende a volta de 5.412km para 6.299km.
O efeito real de tal mudança permanecerá incógnito até que algum monoposto saia do pitlane barenita, mas é razoável supor que a média final de velocidade caia devido às oito novas curvas (sendo que uma das ‘antigas’ será contornada também mais lentamente).
O aumento da extensão ecoa um fenômeno antigo e concretiza um fenômeno novo na Fórmula 1. O antigo é que a média do comprimento das pistas onde Fórmula 1 corre vem aumentando. O novo é que os autódromos parecem estar “esticando” seus próprios traçados.
Da mesma forma que Sakhir, Silverstone também pretende inaugurar um circuito mais longo este ano – a mudança ainda está sujeita à logística da Fórmula 1, já que a nova seção tomará espaço de parte do paddock.
Parece haver uma diferença essencial, porém. Enquanto o novo layout de Silverstone se volta para dentro (como se quisesse buscar sua essência?), a nova seção de Sakhir cresce para fora, de maneira hipertrófica, cancerígena.
Segundo os organizadores da prova, a parte nova foi finalizada em 2006 e pensada para provas de longa duração – em que dezenas de carros de todos os tipos se inscrevem. Numa Fórmula 1 que promete um grid de 26 carros, mas que corre em Mônaco e corre o risco de alinhar menos de 20 na estreia, logo nota-se que acomodar os novatos não é o motivo pelo qual a pista ficou maior.
O que, então, teria feito os diretores de Sakhir saírem da zona de conforto? Ou, mais poeticamente: onde eles querem que os 800m adicionais de pista os levem?
É de conhecimento público que o pequeno principado é sedento por publicidade, e que é pródigo em usar seu GP como um gigantesco outdoor – mesmo que a corrida descambe em uma tediosa hora e meia de um desfile de pilotos. Um bom traçado não costuma ser, atualmente, um indicativo de boas corridas, mas pode ser capaz de atrair alguma atenção da mídia.
Além disso, Sakhir se torna a segunda pista mais extensa do campeonato, superando Suzuka, atrás apenas de Spa-Francorchamps. E quando você imaginou que algum dia veria “Spa-Francorchamps”, “Suzuka” e “Sakhir” citadas na mesma frase?
O efeito real de tal mudança permanecerá incógnito até que algum monoposto saia do pitlane barenita, mas é razoável supor que a média final de velocidade caia devido às oito novas curvas (sendo que uma das ‘antigas’ será contornada também mais lentamente).
O aumento da extensão ecoa um fenômeno antigo e concretiza um fenômeno novo na Fórmula 1. O antigo é que a média do comprimento das pistas onde Fórmula 1 corre vem aumentando. O novo é que os autódromos parecem estar “esticando” seus próprios traçados.
Da mesma forma que Sakhir, Silverstone também pretende inaugurar um circuito mais longo este ano – a mudança ainda está sujeita à logística da Fórmula 1, já que a nova seção tomará espaço de parte do paddock.
Parece haver uma diferença essencial, porém. Enquanto o novo layout de Silverstone se volta para dentro (como se quisesse buscar sua essência?), a nova seção de Sakhir cresce para fora, de maneira hipertrófica, cancerígena.
Segundo os organizadores da prova, a parte nova foi finalizada em 2006 e pensada para provas de longa duração – em que dezenas de carros de todos os tipos se inscrevem. Numa Fórmula 1 que promete um grid de 26 carros, mas que corre em Mônaco e corre o risco de alinhar menos de 20 na estreia, logo nota-se que acomodar os novatos não é o motivo pelo qual a pista ficou maior.
O que, então, teria feito os diretores de Sakhir saírem da zona de conforto? Ou, mais poeticamente: onde eles querem que os 800m adicionais de pista os levem?
É de conhecimento público que o pequeno principado é sedento por publicidade, e que é pródigo em usar seu GP como um gigantesco outdoor – mesmo que a corrida descambe em uma tediosa hora e meia de um desfile de pilotos. Um bom traçado não costuma ser, atualmente, um indicativo de boas corridas, mas pode ser capaz de atrair alguma atenção da mídia.
Além disso, Sakhir se torna a segunda pista mais extensa do campeonato, superando Suzuka, atrás apenas de Spa-Francorchamps. E quando você imaginou que algum dia veria “Spa-Francorchamps”, “Suzuka” e “Sakhir” citadas na mesma frase?
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Wednesday, February 3, 2010
Em busca de legitimidade

O fato é que a Renault voltava a remeter em suas cores às suas primeiras incursões no automobilismo. Quando a marca francesa alinhou para o GP da Grã-Bretanha de 77 era uma lataria pintada de amarelo e preto que revestia o ousado motor turbo. Com um padrão cromático semelhante a equipe correu até se desligar da categoria pela primeira vez, em 85.
Nos anos 2000, quando voltou a competir como construtora, pouca ou nenhuma concessão foi feita às cores originais. O azul da marca de cigarros, o laranja da seguradora, o amarelo sempre fora de contexto.
Mas agora a velha pintura voltou. Estranho, porém, que ele retorne no mesmo momento em que a Renault sai. De “Renault” a atual equipe guarda pouco mais que o nome, já que o controle acionário está agora em mãos do fundo de investimento Genii Capital, de Luxemburgo.

Dois detalhes merecem nota: em primeiro lugar, o nome do modelo, W01 - os modelos da marca começam com W desde os anos 30. E em segundo lugar, a numeração dos carros foi desenhada à maneira dos carros dos anos 30 e 50, em vermelho dentro de um círculo branco. Uma referência inesperada, já que a cor prateada, supunha-se, seria suficiente para remeter aos dias gloriosos.
Por que gravar o passado “na carne” dos novos carros? O que explica tanto afinco em registrar as próprias origens, em voltar às velhas cores e aos velhos padrões gráficos?
A Fórmula 1 tem alardeado que em 2010 voltará a sua “velha forma”, com o “bom e velho” grid de 26 carros e corridas sem reabastecimento “como antigamente”. Há todo um movimento de retorno, de refluxo, que faz parte de uma nova tentativa de legitimação da categoria.
Mas afinal, como legitimar um carro “Renault” que a Renault sequer se dignou a custear? E como legitimar um carro Mercedes desenvolvido em Brackley a partir do projeto uma equipe inglesa cujo poder está centralizado em um inglês?
A resposta, para Mercedes e Renault, está dada: pinte-se por cima, com o verniz do passado.
Tuesday, February 2, 2010
Indie Rocks – Team Gunston, África do Sul, 1971

Um mês não foi suficiente para publicar a quantidade de material que coletei para falar sobre o "país da Copa". Dessa forma, termino a série um pouco mais tarde do que o prometido - e com o hd cheio de material para publicar. Por isso ela talvez volte, em outros moldes, no meio do ano - depende da receptividade do público e de uma eventual oportunidade para abordar o tema.
A foto acima está colocada para ilustrar o que foi afirmado no último post sobre o Team Gunston – que era um dos mais profissionais do continente africano.
Aí está a prova. John Love passou a maior parte das 30 voltas que completou no GP da África do Sul de 1971 à frente de Ronnie Peterson. Aliás, seguido de perto por este. Ambos corriam com um March-Ford. Mas enquanto o sueco estava na equipe de fábrica com o novo modelo 711, Love pilotava o “ex-works” 701, da temporada anterior.
Foi o penúltimo ano do Team Guston em Grandes Prêmios. A partir de 1973, as equipes clientes sul-africanas desapareceram dos grids da Fórmula 1, já que as competições regionais, que os ocupavam durante o resto do ano, passaram a usar os Fórmula 5000.
A título de curiosidade, atrás de Peterson, na foto, está outro piloto local: Dave Charlton, em uma Brabham.
A foto acima está colocada para ilustrar o que foi afirmado no último post sobre o Team Gunston – que era um dos mais profissionais do continente africano.
Aí está a prova. John Love passou a maior parte das 30 voltas que completou no GP da África do Sul de 1971 à frente de Ronnie Peterson. Aliás, seguido de perto por este. Ambos corriam com um March-Ford. Mas enquanto o sueco estava na equipe de fábrica com o novo modelo 711, Love pilotava o “ex-works” 701, da temporada anterior.
Foi o penúltimo ano do Team Guston em Grandes Prêmios. A partir de 1973, as equipes clientes sul-africanas desapareceram dos grids da Fórmula 1, já que as competições regionais, que os ocupavam durante o resto do ano, passaram a usar os Fórmula 5000.
A título de curiosidade, atrás de Peterson, na foto, está outro piloto local: Dave Charlton, em uma Brabham.
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