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Wednesday, April 14, 2010

GP de San Marino, 2000, e reflexões sobre o GP da China

Houve um tempo em que a Fórmula 1 chegava à sua temporada europeia em meados de abril, via de regra começando pelo GP de San Marino. Imola, como é possivel verificar na foto acima, lotava de uma multidão barulhenta e ferrarista.

A algazarra da 'montanha de gente' fazendo tremular bandeiras pode servir de contraponto para o GP da China que ocorrerá nesta semana. Os torcedores tendem, em Xangai, a se comportar de forma mais organizada, menos emotiva... ou melhor, tendem a não comparecer nas bem projetadas e espaçosas arquibancadas assinadas por Hermann Tilke, que garantem até 80% (ou 90%, tanto faz) de visão da pista.

Se vemos espectadores no circuito, é porque empresas 'parceiras' e convidados subsidiam ou dão alguns ingressos por falta de compradores.

Por isso e outros motivos, é sintomático que o circo chegue à China sem saber, exatamente, quando ou se vai voltar para lá, segundo post do blog britânico F1 Fanatic. O GP é inconveniente tanto para as equipes europeias quanto para os espectadores ocidentais, mas as grandes corporações, ainda que muitas delas tenham saído da categoria, veem o país como o principal mercado consumidor de carros.

Dependessem as corridas daquilo que realmente as move, ou seja, a paixão dos torcedores, e agora nossos olhos estivessem voltados para Imola, de onde nunca a Fórmula 1 deveria ter saído.

Monday, February 15, 2010

Imola pós-Variante Bassa


A foto acima, que retrata a corrida de Fórmula 2 ocorrida no ano passado, mostra como ficou a reta dos boxes de Imola após a reforma de 2006/2007.

Imola possui uma enorme relevância na história recente do automobilismo, por isso acredito ser interessante dar um panorama geral das mudanças de traçado nos últimos 20 anos. Antes dos acidentes de Senna e Ratzenberger, era conhecida como uma pista de alta velocidade, com pelo menos um grande trecho de aceleração ininterrupta, do início da reta dos boxes até a Tosa.

Entre 1994 e 1995, e inaugurando os novos tempos, o traçado foi alterado em cinco pontos diferentes: a adição de chicanes na Tamburello e na Villeneuve; a reconstrução da Acque Minerale para aumentar a área de escape; a antecipação da Rivazza também para aumentar a área de escape e a eliminação da antiga Variante Bassa - e a antiga chicane Traguardo, entre a entrada dos boxes e a reta dos boxes, que permaneceu inalterada, "herdou" o nome Variante Bassa.

Nessa configuração a Fórmula 1 correu entre 1995 e 2006, sendo que nos últimos anos a dificuldade de ultrapassar no circuito era patente.

Para resolver o problema, que se somava às estreitas instalações do paddock, decidiu-se eliminar de vez a Variante Bassa, criando assim uma grande reta entre a Rivazza e a chicane da Tamburello. O projeto foi assinado, claro, por Hermann Tilke.

No entanto, e assinalando a "marcha para o Oriente" da categoria, a FIA concedeu a homologação "1T" para o circuito, que permite testes oficiais de Fórmula 1, mas não corridas. E assim resta a Imola abrigar as categorias menores. É improvável que os tifosi voltem a colorir de vermelho as outrora lotadas arquibancadas do circuito.

Sunday, February 14, 2010

Vídeo: Alessandro Nannini, GP de San Marino, 1990



Ver Alessandro Nannini pilotar sempre deixava os espectadores perplexos: para o bem ou para o mal. No vídeo acima, sem dúvida para o mal. Uma das ultrapassagens sobre retardatário mais mal executadas da história.

Os manuais de pilotagem ensinam: jamais olhe para o adversário. Isso vale para a maioria dos esportes ditos individuais, do tênis ao atletismo ao automobilismo. Nannini nos mostra por quê. Participação especial de Andrea de Cesaris.

Monday, December 28, 2009

1994, o ano que não acabou


No início de 2009, me propus a publicar aqui no blog textos que marcassem os 15 anos dos eventos de 1994. Mais do que isso, que jogassem luz sobre um ano dos mais importantes da história recente do automobilismo.

O resultado está aí embaixo: onze escritos que tentaram dar conta do tema.

Escrever sobre aquela época não é fácil: lutei muito para desviar de clichês, para tentar não soar repetitivo, encontrar novas abordagens, entregar ao leitor mais do que um assunto repisado.

Na foto acima, procurei ressaltar a complexidade do tema. Ukyo Katayama, com a Tyrrell, durante o GP de San Marino de 1994. Um dos 12 pilotos que chegaram ao final da trágica corrida, e um dos 26 que sobreviveram a ela (o piloto recentemente teve de ser resgatado de uma escalada mal sucedida do Monte Fuji).

1994 não acabou porque não é possível, ainda, esgotar as reflexões possíveis sobre ele. E no entanto, ele passou. Aqui estamos diante de novos problemas, em um mundo de novas possibilidades. Espero ter jogado luz sobre o passado não por mero fetiche, mas para melhor iluminar o futuro.

Será que consegui? Não faço ideia. Caso você queira conferir por si próprio, sinta-se à vontade para clicar nos links. Cada um recebeu uma sinopse para melhor orientá-lo. E não hesite em comentar!

Jeitinho italiano: Foi meu primeiro texto publicado no ano; tentei abordar um assunto por um viés peculiar. Na verdade, um fato bizarro, ocorrido no GP de Portugal de 1994, sem grande relevância histórica por si só e, portanto, esquecido. É bastante incomum introduzir algum tema deste modo, mas Michel Foucault utiliza este recurso em seu livro Vigiar e Punir. Mestre do estilo, Foucault foi minha inspiração.

1994: Neste texto apresento o tema, indicando que tratarei dele ao longo do ano. Ele é ilustrado pela fotografia, creio, mais representativa daquele ano, que estrutura toda a argumentação.

Os dez anos do GP de San Marino de 1994: Em 2004, quando a Fórmula 1 lembrava os dez anos da morte de Ayrton Senna, diversas linhas de reflexão e discussão sobre o assunto foram abertas. Este texto foi uma tentativa de reeditá-las cinco anos depois.

GP de San Marino de 1994 – Treinos oficiais de sábado (
Parte 1 e Parte 2): Escrevi após rever cuidadosamente a transmissão dos treinos daquele GP. Foi um ponto nevrálgico da história da Fórmula 1, pois se deu um dia após o acidente de Rubens Barrichello e foi marcado pela ocorrência da morte e Roland Ratzenberger – a primeira morte na categoria em oito anos. Tentei registrar aquele dia como a antessala da nova Fórmula 1, onde o presente começou a se delinear.

Imola como metáfora: Pequena reflexão sobre Imola como palco simbólico da transição da Fórmula 1 pré e pós-1994. A pista não está mais no calendário; o que talvez enfraqueceu a efeméride dos 15 anos da morte de Senna.

GP da Espanha 1994 – Tragicomédia: Uma visita a um pequeno detalhe do GP da Espanha daquele ano, que evidenciava o quanto a Fórmula 1 encontrava-se em estado crítico após os eventos do GP de San Marino.

Pequeno inventário de pilotos vitimados em 1994: Registro dos oito pilotos que sofreram acidentes graves naquele ano, contextualizando assim as mortes de Ratzenberger e Senna: a emergência do debate sobre segurança.

Massa, outra vez Senna: Análise de como o acidente de Felipe Massa em julho deste ano, em Hungaroring, fez o público amplo brasileiro voltar a se interessar (ainda que por tempo limitado) pela Fórmula 1, como não se via desde os tempos de Ayrton Senna – e que atingiu o ponto alto com sua morte.

O legado do fogo: Sobre o acidente sofrido por Jos Verstappen durante o GP da Alemanha de 1994, quando sua Benetton se encobriu em chamas e expôs muito da fragilidade vivida pelo automobilismo.

Ayrton Senna é pop: Em agosto deste ano, um álbum de música pop espanhola é lançado com o nome “Ayrton Senna”. Que imagem, permanece do piloto no imaginário social?

Adeus, mangueira: Sobre a volta do reabastecimento na Fórmula 1 em 1994, após dez anos de proibição, e como ele afetou a dinâmica das corridas de Fórmula 1. O procedimento volta a ser proibido em 2010.

Wednesday, December 23, 2009

Schumacher e Ferrari: o divórcio do século


A foto acima mostra o GP de San Marino de 2000, já distante no passado. Ainda mais a partir de agora, que Schumacher assinou seu contrato com a Mercedes e seu divórcio com a Ferrari.

Em suma (do pouco que talvez sobre para dizer do assunto), o retorno de Michael Schumacher não é apenas impressionante por si só. Claro, ele vai trazer mais holofotes à categoria e mais torcedores nas arquibancadas. Mas será diferente, para não dizer estranho, olhar o alemão fora do contexto da Ferrari.

Quando entrou para o time italiano, já era bicampeão, mas não era o dono de todos os recordes. Foi de vermelho que construiu sua imagem mais nítida, e foi Maranello, em última instância, que fez os carros que fizeram de Schumacher o que ele atualmente representa.

Grosso modo, a torcida por Schumacher há mais de uma década foi associada a uma torcida muito mais antiga, e será interessante acompanhar ao longo da próxima temporada os pontos dessa ruptura. Infelizmente, o GP de San Marino, que seria nevrálgico neste aspecto, já não faz mais parte do calendário.

E se Schumacher sacramentou seu divórcio com a Ferrari, ao final permaneceu fiel à sua mais longa parceira: com Ross Brawn. O engenheiro esteve ao lado do piloto durante toda sua carreira e todas as suas vitórias, exceto as três que obteve em 1996.

Tuesday, July 28, 2009

Massa, outra vez Senna


No excelente texto Comunicação de Massa (atualizado), publicado em seu blog, Alessandra Alves aborda o acidente de Felipe Massa através do flerte com o sensacionalismo com que a mídia trata o caso.

Ela também deixa transparecer uma outra questão. As condições misteriosas do acidente, o atendimento médico, a agitação nos boxes. Galvão Bueno diz e repete: “Nunca pensei que teria de dizer isso novamente: vá com Deus, meu amigo...”.

Em 2001, em meio a uma temporada vencedora na Fórmula 3000 Europeia, a Autosprint estampou Massa em uma capa que perguntava: “È il nuovo Senna?”. O acidente de sábado é a irônica resposta. Pois tudo parece recapitular aquele outro acidente, de quinze anos atrás.

Outra vez um acidente, outra vez com um brasileiro. Outra vez o piloto não reage. Outra vez um helicóptero, um hospital. Um capacete com as mesmas cores desfigurado. O registro ao vivo, a imagem explorada, passada mais uma vez e mais outra.

Como em uma relação especular, alguns sinais aparecem trocados. O mais óbvio: ao invés do óbito, a recuperação.

No entanto, podemos estendê-las. Rubens Barrichello, por exemplo exerceu um protagonismo singular em ambos os casos. Em Imola, ele foi a vítima do primeiro acidente, aquele que saiu esanguentado do carro. Ayrton Senna pulou o muro do hospital e saiu para dizer aos repórteres que Rubinho passava bem.

Em Budapeste, é do seu carro que sai a peça a atingir Felipe. Tal como Senna, agora é ele a ter acesso ao hospital, a demonstrar zelo em relação ao colega.

E de repente, aquela sua tia que não gosta de Fórmula 1 ficou parada em frente à tv, enquanto a repórter falava à frente de inscrições em húngaro. A manchete de capa dos jornais estampa o acidente. O telejornal deixa de abordar o futebol para falar da corrida.

Eis a relação especular mais estranha entre Senna e Massa. O trauma deixado pelo primeiro afastou a opinião pública da Fórmula 1. O trauma causado pelo segundo, pela primeira vez, faz o automobilismo sair da esfera dos entusiastas para restituí-lo ao público amplo. Ao menos por algum tempo.




Thursday, July 23, 2009

Cartazes - GP de San Marino... hmm... 1998??

O cartaz do Grande Prêmio de San Marino de 1998 não teria nada de especial... caso Ayrton Senna não tivesse morrido lá alguns anos antes. Naquela temporada o desenho das peças publicitárias já era há muito padronizada, e quase todas foram desenhadas do mesmo modo, provavelmente pela mesma pessoa: com o desenho da pista em primeiro plano, formando um "grid" para o texto.

Acontece que entregaram o trabalho prar um designer que não entendia muito de Fórmula 1, que usou como referência um desenho antigo. Tudo bem que a precisão do traço em relação ao mapa talvez não fosse a exigência.

...Mas o resultado final foi uma verdadeira gafe. Todas as modificações feitas no circuito após 1994 foram ignoradas: a Tamburello e a Villeneuve, a Acque Minerale, a Variante Bassa. E pensar que o trabalho não apenas foi entregue a alguém que não conhecia o meio, como também foi aprovado por executivos da própria Fórmula 1.

Como brinde, o cartaz do GP seguinte, da Espanha, no qual há outra pequena (?) gafe: a chicane Nissan, extinta desde 1995.




Tuesday, May 12, 2009

Pequeno inventário de pilotos vitimados em 1994


As lembranças ao 1o de maio de 1994 já se passaram, mas tomo como obsessão, neste ano, tentar produzir o tanto quanto possível de discurso em relação ao fatídico ano. Ainda estou no início da empreitada; nada mais justo que começar pelo básico: pequena lista de ocorrências e eventos significativos do período.

Interessante notar que as fatalidades não começaram nem terminaram com o famigerado GP de San Marino. Caso você sinta falta de alguma menção no inventário, deixe registrado. Prometo atualizar e citar a fonte.

JJ Lehto
21 de janeiro. Lesões no pescoço obtidas em acidente durante seu primeiro teste com a Benetton, em Silverstone, na pré-temporada. O choque ocorreu a 225 km/h. Foi submetido a uma cirurgia na coluna. Afastou-se das duas primeiras provas da temporada, regressando no GP de San Marino com uma proteção na cervical.

Jean Alesi
30 de março. Lesões nas costas decorrentes de acidente em Mugello, no qual o piloto colidiu a mais de 200 km/h com as barreiras de proteção na curva Arrabiatta. Permaneceu alguns instantes inconsciente e com um braço temporariamente paralisado. Não pôde disputar os GPs do Pacífico e de San Marino.

Rubens Barrichello
29 de abril. Uma saída de pista que se transforma em voo na Variante Bassa, em Imola, o deixa inconsciente por alguns momentos. Um nariz quebrado e outras lesões menores o impede de correr o GP de San Marino. (corrigido / indicação de André Rozaboni)

Roland Ratzenberger
30 de abril. Morto em consequência de uma batida na curva Villeneuve, durante os treinos para o GP de San Marino.

Ayrton Senna
1o de maio. Morto após batida na curva Tamburello, durante o GP de San Marino.

- 1o de maio. Uma roda de Michele Alboreto se solta no pit lane, ferindo levemente três mecânicos da Ferrari e um da Lotus.

Karl Wendlinger
12 de maio. Batida em Mônaco, na saída do túnel, durante os treinos de quinta-feira, deixa o piloto da Sauber em estado de coma, no qual permanece durante 15 dias.

Pedro Lamy
24 de maio. Choque durante testes da Lotus em Silverstone quebra as duas pernas do piloto. Afasta-se das competições até o GP da Hungria de 1995.

Andrea Montermini
28 de maio. Sofre traumatismo craniano e ruptura do tornozelo em decorrência de choque contra muro de proteção em Montmeló, durante treinos livres para o GP da Espanha. Retorna ao automobilismo apenas no ano seguinte.

Thursday, April 30, 2009

GP de San Marino de 1994 - Treinos oficiais de sábado

(continuação)

Reginaldo Leme pergunta a Barrichello qual foi sua reação ao ver as imagens do impacto pela primeira vez, algo que acontecera há poucos minutos. “Foi bem mais impressionante do que quando eu estava guiando o carro”, exclamou. Ele explica que sua memória apagou logo após esterçar o carro à esquerda e perceber que iria sair da pista. “O Geraldo [Rodrigues, empresário do piloto na época] tinha dito pra mim que você perguntou pra ele ‘Quem bateu em mim?’”, emenda Galvão. “[risos] Não, eu sei que ninguém bateu em mim, eu estava fazendo uma volta muito rápida, dando o máximo que eu podia, e acabei na barreira [hesita brevemente] sem problema nenhum, graças a Deus”.

Damon Hill passa um segundo acima do tempo de Ayrton. Pulou da sétima para a quarta posição. Mais uma volta, e fica a seis décimos de seu companheiro. Pouco antes de chegar na Villeneuve, a câmera o flagra passando por uma Simtek. Era David Brabham.

Hill dá mais uma volta, e antes que possa completá-la, a transmissão corta para um carro despedaçado rodopiando. O capacete do piloto pende para um lado. O GC confirma o nome: Ratzenberger.

Paralisação
Poucos notam o heroísmo dos três fiscais que primeiro chegam ao local, cruzando a pista sem que o treino tenha sido interrompido.Finalmente, a bandeira vermelha.

As câmeras captam cada detalhe do socorro, a cara preocupada de um fiscal, o trabalho dos paramédicos para retirar o piloto do cockpit, alguém coordenando a operação. Enquanto isso, Galvão critica o regulamento desportivo, que teria deixado os carros mais inseguros. “Eu até perguntei isso para o Senna ontem e ele ficou quieto (...) Não sei nem se eu estou falando besteira, depois quero até a opinião do Rubinho”. O narrador chega a pedir para os espectadores não olharem ao ver que Ratzenberger estava recebendo massagem cardíaca, e que havia sangue no local.

Barrichello assistiu a tudo da cabine da Globo. Enquanto emitia sua primeira e transtornada opinião, via-se que a Simtek fechava os portões de seu boxe. A massagem cardíaca se estende por um bom tempo. Rubinho toma a palavra. “O que eu acho que deveria existir nas pistas é muita área de escape. Por exemplo, lá na Bélgica em Spa-Francochamps, a Eau Rouge é uma curva que deveria ter uma área maior”.

Galvão lembra que Senna tinha sido o primeiro a conversar com Barrichello no hospital (contrariando, inclusive, indicações médicas), e forneceu inclusive as primeiras informações à imprensa.

O próprio Senna aparece então na tela, negociando uma carona até o local do acidente em um carro oficial. O longo caminho é inteiro filmado, até ele sair do carro, na curva Villeneuve.

Galvão pede as palavras de Barrichello sobre a decisão de Williams e Benetton de não correrem a segunda parte do treino. Foi sua última fala antes de sair da cabine de transmissão. Ele ressalta como os pilotos se sentem mal com um acidente de um adversário. “O Ayrton ontem comigo, se preocupando com acidente, esses momentos são os mais importantes da nossa vida, às vezes receber a bandeirada em primeiro não é o mais importante, mas sim ter um amigo do lado. Principalmente um amigo que para mim é um ídolo há muito tempo”.

Aproximadamente uma hora depois de paralisado, o treino recomeça.

Wednesday, April 29, 2009

GP de San Marino de 1994 - Treinos oficiais de sábado


“É bom ressaltar como é seguro hoje um carro de Fórmula 1, a segurança que ele tem na sua construção, na preocupação com a estrela maior desse circo, que é o piloto”, é uma das primeiras frases que o locutor diz na transmissão dos treinos de sábado para o Brasil.

Galvão Bueno afirma, antes de colocar o reprise do acidente de Barrichello no ar, que ele está muitíssimo bem, está no circuito e prometeu que passaria na cabine para conversar com eles ao vivo.

Gravação com voz de Barrichello: “Eu fiquei desacordado com a batida, ela foi muito forte, eu bati meio fora dos pneus e isso fez com que meu capacete fosse direto para a frente do cockpit, e eu só fui acordar nos boxes. Eu lembro da hora em que eu estou saindo da pista, mas não quando eu bato, e acho que é um momento que nem é bom recordar”. Agradece a Deus, diz que se sente abençoado e que esta é a sua motivação para andar mais forte ainda no futuro.

A câmera corta para Jean Alesi, piloto da Ferrari, perto de uma arquibancada, ao lado de uma faixa em que os italianos o alçam à condição de mito. Estava se recuperando de um acidente. Mika Hakkinen acaba de ter autorização para entrar na pista, logo a seguir vem uma Larousse. E logo depois uma Simtek, a qual não é possível precisar o piloto.

Schumacher é um dos primeiros a ir à pista. Quando a câmera o segue, está próximo de abrir sua primeira volta. Seu tempo na sexta: 1m22s015. Tempo de Senna na sexta: 1min21s538. Tempo de Schumacher em sua primeira tentativa de sábado: 1min21s942. Tempo final: 1min21s885.

Hakkinen, o oitavo no dia anterior, também melhora seu tempo nos primeiros minutos da sessão.

Berger, de Ferrari, na pista, marcou o terceiro tempo na sexta. Seu carro levantou faíscas no meio da Tamburello, se desgarrou levemente na Variante Alta e, na Rivazza, o austríaco trava completamente seu pneu. Na segunda tentativa, passa abaixo do tempo de Senna na segunda parcial. Fecha a volta mais de um segundo acima.

A câmera corta uma Lotus rodando na entrada dos boxes.

Neste momento, Barrichello entra na cabine da Globo. “Um abraço a você [respondendo ao Galvão], abraço ao Regi [naldo Leme], eu tô muito contente de estar aqui, deixo meu abraço ao povo brasileiro, que viu o quanto foi sofrido”. E arremata: “É coisa de corrida, não tem jeito. Acontece com o Senna, acontece com o Prost, por que não vai acontecer com o Rubinho?”

Monday, April 27, 2009

Os dez anos do GP de San Marino de 1994

Foi com uma certa incredulidade, mas não muita, que Button apareceu na pole position. Ninguém sabia ao certo como isso ocorrera, mas a BAR, era fato, tinha o segundo melhor carro do grid. Contudo, a categoria parecia estar mais igual do que nunca. A Fórmula 1 alinhava em Imola para o GP de San Marino de 2004.

2009. Com certa incredulidade, mas não muita, Button aparece como líder do campeonato. As recentes mudanças de regulamento e de hierarquia das equipes dominam a discussão sobre a categoria. Ninguém parece saber o quê ou o quanto exatamente a categoria mudou.

Era dia 25 de abril quando a Lotus preta abriu sua volta, uma bandeira presa ao santantônio, Gerhard Berger ao volante que um dia pertenceu a seu adversário. Cinco anos atrás, a Fórmula 1 reservava alguns momentos para se debruçar sobre seu passado recente e se perguntar: o que foi que aconteceu, exatamente, naquele 1o de maio?

Foi, sem dúvida, o fim de semana que havia transformado a categoria naquilo que ela se tornara: um esporte seguro. Hipocondriacamente seguro. Um investimento seguro.

Em 2004, parecia ter se tornado possível, de repente, ver aquela fatídica temporada de forma mais distanciada. Uma década distanciada, para ser mais exato.

Não que Senna estivesse reduzido a um nome no passado, muito pelo contrário. Um pequeno santuário no muro de proteção da chicane Tamburello, outrora curva Tamburello, se fazia em homenagem a sua mais ilustre vítima. Richard Williams, correspondente do Guardian para aquela prova, relata que o brasileiro era a figura mais falada do paddock no fim de semana. "Dez anos após sua morte, sua ausência nunca foi tão óbvia", afirma.

Presença e ausência
"Em um curto prazo", continua o jornalista, "sua morte exerceu um efeito extraordinário na popularidade do esporte. Como se puxada para o vácuo, a audiência em tv quadruplicou nos oito anos seguintes, estimulada pela lembrança de que as corridas de grand prix são um mundo em que os jovens e glamourosos flertam deliberadamente com o perigo. Agora, após a queda recente, um esporte problemático reza pela emergência de alguém com sua combinação de agressão e refinamento, de brutalidade e gentileza, de ambição e uma graciosidade quase felina".

Logo a seguir, Williams desmente o que não precisa ser perguntado: "Schumacher não é a resposta". E não só ele. Paulo Nogueira, em um artigo para a Quatro Rodas (maio/2004) parece dizer o mesmo:

"Senna, como piloto, não foi tão cerebral quanto o francês Alain Prost. Também não foi tão audaz quanto o leão Nigel Mansell. Nem teve a ventura de Niki Lauda ao sobreviver a um acidente assombroso. E no entanto parece infinitamente maior que todos os seus rivais nas pistas. Nos últimos anos, as sucessivas vitórias do alemão Michael Schumacher contra adversários nanicos inspiram mais tédio e estatísticas que devoção".

Como relatou Richard Williams, no dia do GP funcionários foram instruídos a apagar uma mensagem pintada em letras garrafais no muro da Tamburello, "Ayrton sempre numero 1 - il più grande". Motivo: poderia distrair os pilotos.

A memória
O brasileiro ainda era lembrado pelos seus méritos, suas conquistas, pelo 'tema da vitória'. "Mas nenhuma imagem se compara à de seu acidente", completa Nogueira. "Ela domina, soberana, as recordações. Tantas glórias e no entanto é a visão da morte que emerge vitoriosa". Será a morte a grande responsável pelas conquistas de Senna? Será o piloto apenas idolatrado por ter sido vista sua por milhões ao vivo sua passagem do mundo dos vivos?

Se algo é certo, é que boa parte da memória coletiva parece ter esquecido das manobras controversas, das inúmeras discussões em que ele entrou sem ter razão. Ele não foi um santo, mas é beatificado.

Mitologizado ou não, a categoria, seu público seus dirigentes, pareciam sentir falta de algo. Richard Williams a coloca em palavras:

"Algo em Senna levou as pessoas às corridas de Grand Prix. Ontem [dia da corrida], enquando seus sucessores não-distraídos se balançavam através das curvas da chicane que substituiu a Tamburello após sua morte, motores cortando e retomando enquanto o controle de tração atuava, a Fórmula 1 parecia e soava mais do que nunca como uma cruel paródia de si mesma".

Schumacher se aposentou. Os controles de tração se encontram banidos. A Fórmula 1 não corre mais em Imola e talvez Senna não seja mais tão lembrado. Hoje vivemos outras mudanças, embora o mesmo piloto esteja largando na frente.

No entanto, as mudanças de carros na ponta, regulamentos e circuitos não vieram à toa neste ano. Seja lá qual for seu efeito, elas continuam tributárias desse mesmo GP de San Marino de 1994. Ayrton Senna ainda se faz presente.