Enquanto a Ferrari se aprofundava numa crise no início do ano, a notícia de que Schumacher não compareceria mais às corridas não passou despercebida. Especulou-se que a relação entre o time e o ex-piloto celebridade não seria das melhores: rumores, fundados ou não, atribuíram ao "consultor" a estratégia de fazer Raikkonen largar com pneus de chuva na pista ainda seca da Malásia, destruindo seus pneus, suas chances na prova e a imagem de excelência do time de Maranello.
Schumacher continuava a se dedicar às motos, até que um acidente em testes num obscuro circuito espanhol lesionou seu pescoço.
Conforme os resultados da Ferrari melhoravam, a imagem do piloto voltava a se associar a ela. E eis que o mundo é surpreendido pela notícia da volta do grande recordista à ativa.
Mesmo a escuderia vivendo uma significativa melhora, há de se ressaltar o estoicismo de Schumacher em retornar a uma Fórmula 1 muito diferente, em um circuito novo para ele, em uma equipe que não vive seus melhores dias.
A favor do alemão, a crescente em que vem o time, e a vantagem teórica com que a Ferrari parte em Valência: travado como Mônaco e Hungaroring, onde a performance dos carros vermelhos não se mostrou ruim; onde o Kers pode fazer a diferença entre ultrapassar e ser impossível de ultrapassar.
Contra ele, as novas mudanças - e algumas questões antigas que ressurgem. Em primeiro lugar, a ausência do controle de tração e de largada: Schumacher nunca foi um bom largador - mais uma vez, o Kers deve fornecer vantagem comparativa.
Também foi lembrado que será a primeira vez que o alemão largará com os mesmos pneus de seus adversários diretos desde o ano 2000.
Com tantos detalhes a observar em sua reestreia, é importante notar a relevância histórica do evento: reatar o elo entre a "antiga" e a "nova" Fórmula 1. Após sua aposentadoria, pilotos como Hamilton e Vettel despontaram como novos gênios. Alonso se desdobrava entre brigas de equipe e uma equipe média, o que o impediu de ligar alguns pontos rompidos entre 2006 e 2007. A renovação do grid desde então foi imensa: oito pilotos do grid estrearam há menos de três anos. Com a volta de Schumacher às pistas, teremos a real medida (ou a ilusão) do que isso de fato significou.
Schumacher retorna para vencer? Difícil saber. É certo, no entanto, que ele volta para conferir à Fórmula 1 algo de que, no momento, necessita muito: legitimidade.